Matilde Fieschi
Nasceu em 1971, em Paris, três anos antes do 25 de Abril. O pai estudava arquitetura no Porto, mas fugiu com o irmão da guerra colonial, em 1967. Foram viver e estudar para a Bélgica, mas envolveram-se nos movimentos estudantis revolucionários e mudaram-se para Paris.
A mãe estava em Moçambique. Os pais casaram-se por correspondência e só depois se juntaram na capital francesa. Os pais estavam ligados ao movimento comunista em França. Passaram a viver da empresa de artes gráficas que tinham e imprimiam textos e cartazes revolucionários.
Matilde Fieschi
Não tem muitas memórias da vida em Paris, mas ainda hoje em conversas com a prima recorda o berçário onde andavam: “Tinha um símbolo de uma foice e um biberão e os pais revolucionários é que tomavam conta das crianças. Todos os dias era um pai diferente! E acho que a certa altura a minha mãe achou que aquilo não era boa ideia”, recorda.
A família regressou a Portugal no verão de 1974, depois da Revolução, mas um ano antes, com apenas 2 anos, já tinha viajado para Lisboa “sozinha”. “Vim passar o Natal com os meus avós. Mandaram-me num avião com uma etiqueta”, conta.
Matilde Fieschi
Em criança, viu os pais lutarem por um “Portugal diferente” e acredita que fez parte dessa revolução. “Eu estive lá, nos bastidores. Aconteceu na minha casa”, continua.
Cresceu rodeada de artistas, cantores e pintores. Bebeu as influências dos pais e da avó, pintora, com quem aprendeu a fazer croché.
Gosta de dizer que faz parte da “primeira geração educada em democracia”. Estudou no Liceu Francês até ao 4º ano, depois saltou de escola em escola até acabar na Escola Artística António Arroio.
Matilde Fieschi
Matilde Fieschi
Com 18 anos foi para a Escola do Arco aprender desenho. Foi mais ao menos por esta altura que montou o primeiro atelier. “Já não tinha espaço no quarto”, explica.
“Já usava um pequeno maçarico em algumas peças (…) o gato passava a frente da secretária e quase que lhe queimava o rabo. Estando a minha família habituada a estas manualidades acharam que era melhor encontrar um espaço”, continua.
Matilde Fieschi
Matilde Fieschi
Depois da primeira peça em Serralves tem somado muitos sucessos e é uma das artistas de renome no país. Joana Vasconcelos é a convidada do novo episódio do Geração 70.
Acredita que um artista “nunca está a trabalhar” e que o seu papel também é “inquietar”. Quase todas as peças inquietam e confessa que a maior desilusão foi o lustre feito de tampões ter sido censurado em Versalhes. É a artista que transforma o lixo em luxo, uma mulher de esquerda – “mas também empresária” – afirmativa e que parece pintar de vermelho os lábios de todos os materiais. Ouça aqui a entrevista com Bernardo Ferrão.
Paulo Alves
Matilde Fieschi
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