O PS criticou esta sexta-feira o Governo por esperar uma unanimidade para o reconhecimento do estado da Palestina, defendendo que o Governo deve “atuar decididamente” devido à constituição de um consenso internacional em torno da independência da Palestina”, que altera as circunstâncias e “impõe que Portugal reconheça já o Estado da Palestina”.
No debate de atualidade na Assembleia da República agendado pelo Livre sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, afirmou que “esperar pela unanimidade não é mais do que adiar para sempre uma solução para o conflito” e o reconhecimento deve ser feito de imediato, sem prejuízo de se continuarem “esforços para que todos os Estados-membros reconheçam em conjunto”.
À intervenção socialista, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, respondeu dizendo que a mudança de posição dos socialistas relativamente ao reconhecimento do Estado da Palestina é uma “ferida na credibilidade do PS” e “não gera confiança junto dos portugueses”.
O ministro afirmou ainda que o Governo “acredita muito” no seu papel de mediação face ao conflito israelo-palestiniano, que disse estar “a dar frutos”, e realçou que o reconhecimento imediato da Palestina “seria relativamente inconsequente”.
Ao longo do debate, as posições à direita foram todas de acordo com a posição do Governo, com o líder parlamentar do Chega a defender as palavras do Executivo sobre a importância de um cessar-fogo em vez de “tentar reconhecer estados e mais estados”.
Pela IL, Rodrigo Saraiva afirmou que os liberais não acreditam “que o reconhecimento individual do Estado da Palestina por parte de Portugal, neste momento, contribua para terminar com o conflito nem levar a uma paz duradoura”.
O CDS, por Paulo Núncio, criticou as posições assumidas pelos anteriores governos nesta matéria e sublinhou a necessidade de encontrar “soluções pacíficas e no respeito dos direitos humanos de todos”.
À esquerda, Marisa Matias, do BE defendeu que “ainda que de forma totalmente indireta”, não reconhecer já o Estado da Palestina é “alimentar aquela que tem sido a ofensiva israelita”. Paula Santos, do PCP, acusou o Governo de revelar “cumplicidade com tudo aquilo que Israel está a fazer contra o povo palestiniano”. Enquanto, o PAN insistiu no reconhecimento da Palestina e sublinhou que “por mais complexa que a situação seja (…) estamos a falar do genocídio de um povo”.
No encerramento do debate, a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, emocionou-se e teve de interromper por momentos a sua intervenção quando falava das vítimas do conflito. “De uma prisão a céu aberto, Gaza passou a ser um inferno a céu aberto”, disse.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ A pausa diária anunciada pelo exército israelita nas operações no sul da Faixa de Gaza não teve qualquer impacto na chegada da ajuda humanitária, afirmou a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os trabalhadores humanitários “não podem chegar a Kerem Shalom e recolher [ajuda] com toda a segurança devido à falta de ordem pública e de segurança”, no entanto, foi possível a entrada de combustível em quantidades limitadas, disse o porta-voz do Gabinete de Coordenação das Situações de Emergência, Jens Laerke, citado pela agência francesa AFP.
⇒ O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres alertou que não se pode permitir que “o Líbano se torne noutra Gaza”, numa altura em que “o risco de o conflito se estender ao Médio Oriente é real e deve ser evitado”.
⇒ Um adolescente palestiniano de 15 anos morreu depois de ter sido baleado pelas forças israelitas, segundo as autoridades palestinianas. Uma fonte do exército israelita referiu à agência EFE que um grupo atirou pedras e garrafas de vidro contra os soldados, que “responderam com disparos”. Além deste caso, fontes palestinianas relataram também um total de 20 detenções em toda a Cisjordânia, incluindo crianças.
⇒ A Arménia decidiu reconhecer o Estado da Palestina com o objetivo de existir um “estabelecimento imediato de uma trégua” em Gaza e a criação de uma “paz duradoura”.
⇒ O Hamas apelou à comunidade internacional para que investigue alegados casos de abuso e tortura de pessoas detidas em Gaza em prisões israelitas. O mais recente “foi o de vários palestinianos raptados em Gaza e libertados hoje [quinta-feira] da prisão militar sionista Sde Teman”, disse o grupo, citado pela agência espanhola EFE. O comunicado do Hamas foi divulgado depois de um jovem palestiniano, alegadamente libertado de Sde Teman, onde esteve detido por Israel durante um mês, ter sido filmado na quinta-feira num hospital em estado de choque, com dificuldades em falar de forma coerente e com sinais de tortura nos pulsos e tornozelos.
⇒ O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, admitiu a possibilidade de estabelecer uma missão naval europeia no Chipre para garantir a segurança do Estado-membro face à recente advertência do grupo xiita libanês Hezbollah. O “Chipre conta com todo o nosso apoio nesta situação”, afirmou, sem especificar a dimensão desse apoio e pedindo que seja evitada uma situação de “alarmismo”.