Desde quando o amor tem sexo? – Foi a questão que a psicóloga clínica e sexóloga Gabriela Moita desconstruiu nos anos 90 com um paciente que fora discriminado por outro psicólogo quando se afirmou homossexual, numa consulta.
Gabriela relatou que este momento foi transformador para si e para o seu percurso tanto na consulta clínica como na sua investigação e ativismo, quando deu conta que um colega seu agredira desta forma o seu paciente dizendo-lhe que ele nunca poderia amar por ser gay. Uma dupla agressão já que este homem procurara um especialista na àrea da saúde mental por sofrer discriminação na sociedade.
O preconceito não escolhe profissões e pode mesmo vestir uma bata, ou atender num consultório de psicologia, mas sobre ele importa que haja tolerância zero. Por isso, Gabriela decidiu agir, denunciar e investigar profundamente sobre o tema, mesmo que isso a obrigasse a confrontar os seus pares. Gabriela Moita tem esta firmeza e coragem.
Doutorada na Universidade do Porto com o tema: «Discursos sobre a homossexualidade no contexto clínico», Gabriela Moita é uma das grandes referências portuguesas na área da psicologia e sexologia e há mais de 30 anos que se dedica a refletir e a investigar sobre a forma como amamos e nos relacionamos com os outros e sobre as questões de género – em particular da comunidade LGBTQIA+.
Sempre atenta à diversidade, e aos estudos e vozes que desconstroem o dualismo único entre a ideia de homem e mulher e as convenções e narrativas tradicionais sobre amor, relações ou sexualidade, Gabriela Moita integra desde 2021 o Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
No seu percurso, já esteve à frente de várias organizações, nomeadamente foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica e Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicodrama e, na televisão, há décadas que é um rosto habitual em inúmeros programas, em Portugal e no Brasil, como foi o caso de “Falatório” , com Anabela Mota Ribeiro; “Estes Difíceis Amores”, com Júlio Machado Vaz e Leonor Ferreira ou ainda “Tanto para conversar”; “Elogio da Paixão” e “Impaciência do coração”.
Neste mundo sem tempo, em que andamos todos sobrecarregados, ansiosos, deprimidos ou stressados, e demasiado agarrados às redes sociais, qual o lugar do amor, das relações profundas e da sexualidade prazerosa?
Quais são as questões eternas que continuam a chegar-lhe às consultas? E as questões que têm aumentado nos últimos anos? Há uma nova vaga de conservadorismo sexual na sociedade e de ódio contra a diversidade com o crescimento da extrema direita na AR e na Europa?
Estas são algumas das questões que lhe são colocadas.
Gabriela cresceu até aos 12 anos em Luanda, mas nasceu em Lisboa, porque a sua mãe queria ter uma filha nascida na metrópole.
Depois do privilégio de crescer cheia de imensidão, sofreu o estigma de ser retornada e aprendeu a viver a escapar a ele, tal era o auto estigma, o que só muito tarde veio a perceber.
Gabriela conta aqui neste episódio que nunca percebeu as discriminações, nunca percebeu as pessoas que discriminam, nem porque o fazem, nem como o fazem.
As suas primeiras grandes incompreensões foram as do racismo e a da pobreza…as outras foram-se somando à medida que ia tendo consciência delas.
Gabriela Moita tem gosto pelas comunidades, e gosta do que os grupos podem fazer para transformar. Por isso acredita na possibilidade de mudança e participa nela.
No final desta primeira parte, Gabriela é surpreendida por um áudio que a comove. Boas escutas!
JOAO CARLOS SANTOS
A Beleza das Pequenas Coisas
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Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte deste episódio será lançada na manhã deste sábado. Boas escutas!