Fósseis de vértebras descobertas numa mina de lenhite são os restos mortais de uma das maiores serpentes que alguma vez existiram, um monstro estimado em 15 metros de comprimento – mais comprido do que um T-rex – que rondava pelos pântanos da Índia há cerca de 47 milhões de anos.
Os cientistas anunciaram, nesta quinta-feira, que recuperaram 27 vértebras da serpente, incluindo algumas ainda na mesma posição em que estariam quando este réptil sem membros estava vivo. A serpente, a que deram o nome científico de Vasuki indicus, ter-se-ia assemelhado a uma grande pitão dos nossos dias e não teria sido venenosa.
A mina está situada na zona de Panandhro, no distrito de Kutch, no estado do Gujarat, na parte ocidental da Índia. A lenhite é um carvão.
“Considerando o seu grande tamanho, a Vasuki era um predador de emboscada lento que subjugava as suas presas através de constrição, tal como as anacondas e as pítons. Esta serpente vivia num pântano perto da costa, numa altura em que as temperaturas globais eram mais elevadas do que actualmente”, disse Debajit Datta, investigador de pós-doutoramento em paleontologia no Instituto Indiano de Tecnologia de Roorkee e principal autor do estudo publicado na revista Scientific Reports.
Devido à natureza incompleta dos restos mortais da Vasuki, os cientistas estimaram o comprimento de 11 a 15 metros e uma tonelada de peso.
Vasuki, nome do rei-serpente associado a Xiva, divindade do hinduísmo, rivaliza em tamanho com outra enorme serpente pré-histórica chamada Titanoboa, cujos fósseis foram descobertos numa mina de carvão no Norte da Colômbia, conforme anunciado em 2009. A Titanoboa, estimada em 13 metros de comprimento e 1,1 toneladas, viveu há 58 a 60 milhões de anos. A píton reticulada é a maior serpente existente, medindo seis a nove metros.
“O comprimento estimado do corpo da Vasuki é comparável ao da Titanoboa, embora as vértebras da Titanoboa sejam ligeiramente maiores do que as da Vasuki. No entanto, nesta altura, não podemos dizer se a Vasuki era mais maciça ou mais esguia do que a Titanoboa”, afirmou o paleontólogo Sunil Bajpai, co-autor do estudo e também do Instituto Indiano de Tecnologia de Roorkee.
Estas enormes serpentes viveram durante a era Cenozóica, que começou após o fim da era dos dinossauros, há 66 milhões de anos. Talvez o maior Tyrannosaurus rex conhecido seja um exemplar chamado Sue, que se encontra no Museu Field em Chicago, com 12,3 metros de comprimento, embora, obviamente, os T-rex fossem mais maciços do que estas serpentes.
A maior vértebra da Vasuki tinha 11,1 centímetros de largura. A Vasuki parece ter tido um corpo largo e cilíndrico, com cerca de 44 centímetros de largura. O crânio não foi encontrado.
“A Vasuki era um animal majestoso”, disse Debajit Datta. “Pode muito bem ter sido um gigante dócil, que descansava a cabeça num alpendre alto, enrolando o corpo maciço durante a maior parte do dia ou movendo-se lentamente pelo pântano como um comboio que nunca mais acaba. Nalguns aspectos, faz-me lembrar a (serpente gigante fictícia) Kaa de O Livro da Selva [de Rudyard Kipling]”.
Os investigadores não têm a certeza das presas que a Vasuki comia, mas, tendo em conta o seu tamanho, pode muito bem ter incluído crocodilianos. Outros fósseis encontrados na região incluíam crocodilianos e tartarugas, bem como peixes e duas baleias primitivas, a Kutchicetus e a Andrewsiphius.
Serpentes, criaturas pacíficas e importantes
A Vasuki era um membro da família de serpentes Madtsoiidae, que apareceu há cerca de 90 milhões de anos e se extinguiu há cerca de 12 mil anos. Estas serpentes espalharam-se da Índia para o Sul da Eurásia e para o Norte de África depois de o subcontinente indiano ter colidido com a Eurásia há cerca de 50 milhões de anos, explicou Sunil Bajpai. Aquela era uma família de serpentes dominante durante a era dos dinossauros e no início do Cenozóico, antes de a sua diversidade diminuir, acrescentou Sunil Bajpai.
“As serpentes são criaturas espantosas que muitas vezes nos deixam atónitos devido ao seu tamanho, agilidade e mortalidade”, destacou ainda Debajit Datta. “As pessoas têm medo delas porque algumas serpentes são venenosas e têm uma mordedura fatal. Mas as serpentes talvez ataquem as pessoas por medo e não com a intenção de atacar. Acredito que as serpentes, tal como a maioria dos animais, são criaturas pacíficas e uma componente importante do nosso ecossistema.”