Artigo originalmente publicado a 19 de novembro de 2011, na revista “Atual”, do Expresso
Fausto Bordalo Dias é um nome fundamental da música portuguesa, desde os tempos da música de intervenção. Destacou-se como compositor e tem editado obras consideradas marcos na discografia nacional, mormente a trilogia em torno das navegações e dos contactos dos portugueses pelo mundo: “Por este Rio Acima”, “Crónicas da Terra Ardente” e o novo “Em Busca das Montanhas Azuis”, que originou a presente entrevista.
“Quando cá cheguei, em 1969, trazia a música que fazia à sombra dos trópicos, que, aliás, concentrei no disco ‘A Preto e Branco’ [1988], com coisas dos meus 15, 20 anos… A alteração de padrão deu-se através do contacto com a balada. Conheci o Adriano Correia de Oliveira, o Manuel Freire e depois o Zeca Afonso, que andava sempre atrás de quem pudesse acompanhá-lo, pois ele não tocava lá essas coisas. Acompanhei-os muito, a ele e ao Adriano. A determinada altura, deixei de cantar. Eles cantavam tão bem, e eu dizia: ‘Não canto coisa nenhuma…’ Deixei de cantar, sem nunca deixar de acompanhá-los. Algumas vezes, cansados, pediam-me duas ou três canções… Eu lá cantava, muito contrariado. Com isso ganhei confiança. Achava a balada musicalmente rudimentar para o que eu podia desenvolver com a guitarra, mas foi ela que me colocou em contacto com a música tradicional portuguesa. Hoje é muito difícil, se não impossível, verificar qualquer influência dos tais trópicos na minha música. Percebe-se essa evolução num disco que gravei em 1977, ‘Madrugada dos Trapeiros’. Em ‘Por Este Rio Acima’ já não há nada… Poderá haver coisas orientais, mas para sublinhar a posição geográfica da viagem de Fernão Mendes Pinto. No disco que vai sair há uma nota que indica que o que ali temos são desenvolvimentos e estilizações a partir da música tradicional portuguesa. Mais nada. Como é uma viagem através da África, alguém poderia ser sugestionado…”