Uma queixa recorrente há mais de duas décadas levou a secretária de Estado do Tesouro a Pequim para debater medidas alternativas. Os EUA propõem um apoio à procura e não à oferta.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, advertiu a China que Washington não aceitará que novas indústrias norte-americanas continuem a ser colocadas em causa devido às importações oriundas da chinesas – decorrentes do poderio industrial do Império do Meio. Yellen esteve na China durante quatro dias para debater o assunto e disse, em conferência de imprensa que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não permitirá uma repetição do “choque China” do início dos anos 2000, quando uma avalanche de importações chinesas destruiu cerca de dois milhões de empregos na indústria norte-americana.
Em causa está, como desde sempre, o apoio do governo de Pequim a algumas indústrias específicas – como são os casos mais recentes dos veículos elétricos, painéis solares e outros itens ligados ao segmento das energias verdes. O debate sobre os apoios do Estado chinês à indústria tem mais de duas décadas – com o ocidente a ter dificuldades em aceitar o que é uma opção estratégica da China e uma das causas do forte crescimento da sua economia de o final do século passado. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC, em 2000) abriu as portas do comércio mundial à China, mas os parceiros ocidentais não conseguiram demover o regime a aceitar práticas concorrenciais que lhe próximas das indústrias europeias e americanas. E só muito dificilmente os chineses irão implementá-las.
Yellen usou esta sua segunda viagem à China em nove meses para reclamar que o excesso de investimento da China aumentou a capacidade fabril de forma muito superior à procura interna, enquanto as exportações em rápido crescimento desses produtos ameaçam as empresas norte americanas e de outros países ocidentais.
A secretária de Estado disse que um fórum de intercâmbio recém-criado para discutir intensamente a questão do excesso de capacidade tentaria resolver o problema, mas precisaria de tempo para chegar a soluções. “Já vimos esta história antes”, disse. “Há mais de uma década, o apoio maciço do governo da China levou a que aço chinês abaixo do preço de custo inundasse o mercado global e dizimasse indústrias em todo o mundo e nos Estados Unidos”. “Deixei claro que o presidente Biden e eu não aceitaremos essa realidade novamente”.
Quando o mercado global é inundado com produtos chineses artificialmente baratos, “a viabilidade de empresas americanas e outras é colocada em questão”, tendo referido especificamente os casos da Europa, Japão, México e Filipinas.
Uma possível solução de curto prazo, afirmou citada pelos jornais, é a China tomar medidas para reforçar a procura interna com apoio às famílias e mudar o seu modelo de crescimento para fora dos investimentos do lado da oferta.
Yellen manteve longos encontros com o primeiro-ministro Li Qiang e com o ministro das Finanças, Lan Foan, para além de se ter encontrado com o governador do Banco Popular da China (PBOC), Pan Gongsheng, e com o ex-vice-primeiro-ministro Liu He.