O termo usado foi “intransigente”. Foi o Hamas que rejeitou a proposta apresentada, no Cairo, nas negociações para um cessar-fogo, dizendo que a fórmula não atende a nenhuma das exigências da equipa palestiniana. Na manhã desta terça-feira, o grupo guerrilheiro que lidera os palestinianos adiantou que resolveu estudar, no entanto, a proposta que Israel recebeu dos mediadores do Catar e do Egito, e entregar a sua resposta aos mediadores. “Parece que a grande diferença é que o Hamas deseja chegar a um acordo de cessar-fogo permanente que o manteria no poder, enquanto Israel está interessado num acordo de cessar-fogo temporário que lhe permitiria continuar e avançar através de meios militares ou diplomáticos para a remoção do Hamas do poder”, diz ao Expresso Yuval Shany, professor de Direito Internacional na Universidade Hebraica de Jerusalém. “Desta vez, os mediadores estão do lado de Israel, e propõem um cessar-fogo de sete semanas em troca de alguns dos reféns e o regresso gradual dos civis de Gaza ao norte da região.”
Mas Macron e os líderes do Egito e da Jordânia voltaram a apelar a um cessar-fogo imediato. Num artigo redigido em conjunto e publicado no jornal “The Washington Post”, o Presidente francês Emmanuel Macron, o rei Abdullah II, da Jordânia, e o Presidente egípcio, Abdel Fattah el Sissi, defendem que a guerra “deve terminar agora” e que a solução de dois Estados é “necessária para trazer a paz ao Médio Oriente”. (A fórmula de dois Estados proposta resulta num Estado palestiniano independente ao lado do, já existente, israelita, dando a ambos os povos o seu território próprio.) Os líderes apontaram para uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que apelasse a um cessar-fogo, que deveria ser implementado “imediata e incondicionalmente”. As autoridades também alertaram para as consequências “perigosas” de uma ofensiva israelita em Rafah, que, garantem, “só traria mais morte e sofrimento”.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tinha adiantado que foi marcada uma data para a invasão da cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza e na fronteira com o Egito, mas não especificou quando. Israel terá comprado 40 mil tendas para a retirada de centenas de palestinianos que se encontram na cidade do sul de Gaza, de acordo com a Associated Press. As autoridades israelitas consideram que Rafah é o último grande reduto do Hamas em Gaza. Estima-se que 1,5 milhões de palestinianos – mais de metade da população de Gaza – se refugiaram na cidade, depois de fugirem aos bombardeamentos israelitas em outros lugares do território.
Médio Oriente
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Muitos países ocidentais, incluindo os EUA, manifestaram forte oposição à proposta de invasão terrestre israelita, uma vez que qualquer ataque a Rafah poderá causar muitas mortes e agravar a crise humanitária em Gaza. A cidade é também um centro logístico para a distribuição de ajuda através de Gaza, segundo a ONU. Israel contra-argumenta que tem um plano para retirar os civis antes da sua ofensiva. “A estratégia militar de Israel é plausível, mas tem um custo humanitário muito elevado”, explica Yuval Shany, investigador israelita e especialista em direito humanitário. “Neste momento, os norte-americanos não confiam na capacidade de Israel para a mitigação de danos, e não estão dispostos a lidar com as consequências da opinião pública decorrentes da continuação da guerra e da catástrofe humanitária a ela associada.”
Os Estados Unidos transferiram milhares de armas e munições para a Ucrânia, depois de as apreenderem a navios que navegavam com destino ao Iémen. O Comando Central dos EUA declarou que apreendeu as armas no final do ano passado, quando eram transportadas do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irão para abastecer os rebeldes hutis, do Iémen.
Cerca de cinco mil AK-47 – que, curiosamente, tem origem na antiga União Soviética -, metralhadoras e mais de 500 mil cartuchos de munição foram descobertos. O Comando Central dos EUA explicou que o material de guerra foi transferido para a Ucrânia, para ajudar na defesa contra a invasão russa. “O apoio do Irão aos grupos armados ameaça a segurança internacional e regional, as nossas forças, o pessoal diplomático e os cidadãos da região, bem como os dos nossos parceiros. Continuaremos a fazer tudo o que pudermos para esclarecer e impedir as atividades desestabilizadoras do Irão.” Como realça Yuval Shany, “é pouco provável que o Irão entre na guerra no sentido pleno da palavra”, preferindo, em vez disso, continuar a lutar por procuração. “Mas é provável que tente realizar um ataque específico contra ativos israelitas, muito provavelmente a uma instalação diplomática fora de Israel.” O Irão prometeu retaliar na sequência de um ataque israelita a um complexo da embaixada na Síria, no qual morreram sete comandantes das Forças Armadas iranianas.
Guerra Israel-Hamas
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O Irão está, aliás, a operar uma rota clandestina de contrabando através do Médio Oriente, contando com agentes de serviços de informação e gangues criminosas, para entregar armas aos palestinianos na Cisjordânia, segundo responsáveis dos Estados Unidos, ouvidos pelo jornal “The New York Times”. Devido à operação secreta, começam a aumentar as preocupações de que Teerão esteja a tentar transformar a Cisjordânia no próximo ponto de conflito na longa guerra sombria entre Israel e o Irão. Muitas armas contrabandeadas para a Cisjordânia viajam principalmente do Irão através do Iraque, Síria, Líbano, Jordânia e Israel, disseram as autoridades. através da fronteira da Jordânia para Israel.
Num levantamento feito pelo jornal “The Guardian”, também é possível compreender quem são os maiores fornecedores de armas a Israel. Os EUA são o maior exportador, fornecendo cerca de 68% das armas estrangeiras de Israel. A Alemanha fornece cerca de 30%. O jornal britânico inclui na lista o Reino Unido, a Itália e a Austrália, embora Penny Wong, ministra australiana dos Negócios Estrangeiros, tenha dito que o seu país não forneceu armas, desde o início do conflito em Gaza.
O Canadá, Países Baixos, Japão, Espanha e Bélgica anunciaram que iriam parar de enviar armas para Israel. Na Dinamarca, está pendente um processo judicial que poderá resultar na suspensão, por parte do Governo, da exportação de peças de caças F35 para os EUA, que vende as aeronaves finalizadas a Israel. Os EUA fornecem cerca de 3,8 mil milhões de dólares anualmente em ajuda militar a Israel, um montante que se manteve visivelmente estável ao longo da última década.
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⇒ Israel usou, pela primeira vez, um sistema de defesa antimísseis marítimo para abater um drone que se aproximava do Mar Vermelho, e que fez soar as sirenes na cidade portuária de Eilat. Eilat tem sido alvo frequente de ataques de rebeldes hutis, apoiados pelo Irão, no Iémen.
⇒ Um ataque aéreo israelita contra um edifício municipal do campo de refugiados de al-Maghazi, no centro da Faixa de Gaza, resultou na morte do líder do conselho municipal, Hatem Al-Ghamri, e quatro outros civis, revelou o Hamas. Os militares israelitas alegam que Hatem Al-Ghamri era um agente militar do Batalhão Maghazi do Hamas, e que esteve envolvido no lançamento de mísseis contra Israel.