A importância dos cuidados neonatais e da nutrição nos primeiros anos de vida e a promoção de literacia para uma vida saudável junto dos jovens, desde a alimentação à prática de atividade física, foram os temas em debate na webtalk desta terça-feira do projeto do Expresso dedicado à Longevidade.
Numa sessão moderada pelo diretor-adjunto, Martim Silva, a reflexão organizou-se em dois painéis: o primeiro contou com a nutricionista Mariana Abecasis e o pediatra e neonatologista Luís Pereira da Silva, enquanto no segundo participaram Margarida Gaspar de Matos (psicóloga e professora catedrática da Universidade de Lisboa), Manuel Carrageta (presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia) e José Pereira Azevedo (investigador e professor da Universidade do Porto).
Eis as principais ideias abordadas:
Exemplo
O período entre os zero e os dez anos de idade é o momento da vida em que em que há “maior transformação” e cabe aos pais ou cuidadores acompanhar a “mudança de necessidades”, apontou Mariana Abecasis. A nutricionista sublinha a importância de, em casa, a alimentação ser “o mais equilibrada possível”, sem entrar em “fundamentalismos”, com produtos de qualidade e verdadeiramente nutritivos.
Mas até o tempo antes do nascimento é determinante: os primeiros mil dias, que abrangem a vida fetal e os primeiros dois anos de vida, terão impacto na saúde no futuro, o que exige uma “visão mais abrangente”, segundo Luís Pereira da Silva.
A nutricionista Mariana Abecasis e o pediatra e neonatologista Luís Pereira da Silva
Nuno Fox
Uma vez que a questão da amamentação “já está muito enraizada”, sabendo-se da importância da exclusividade em particular até aos seis meses do bebé, o “principal desafio” começa na fase de introdução e diversificação alimentar, de acordo com a experiência de Mariana Abecasis. Os hábitos dos pais assumem um papel fundamental: se não estiverem “dispostos a mudar”, o “alcance do benefício” do plano pensado para a criança ficará aquém do desejado.
E quando os pais “praticam atividade física com os jovens e comem com eles à mesa”, com tempo e aproveitando o “prazer de estar juntos”, os mais novos “comem melhor, comem menos e há socialização à volta da mesa”, exemplificou Margarida Gaspar de Matos.
A psicóloga Margarida Gaspar de Matos
Nuno Fox
Excesso
Em Portugal, as crianças consomem leite, proteína animal e açúcar em demasia, alertou Luís Pereira da Silva. Os dados mostram que o excesso de peso afeta cerca de 30% das crianças no nosso país. “Não podemos ficar descansados”, realça o pediatra, indicando que os produtos açucarados são introduzidos em “idade precoce”, com um “efeito muito nefasto”.
Este tipo de produtos está “demasiado disponível” e muitas vezes “em forma de açúcares escondidos”, enquadra Mariana Abecasis. “A indústria desenvolveu tantos produtos novos que cada vez mais nos afastamos do alimento no seu estado mais natural em prol de alimentos processados, que são muito menos ricos nutricionalmente”, afirmou.
Conceição Marinho, professora, é também coordenadora do projeto Educação para a Saúde no Agrupamento de Escolas André de Gouveia, em Évora
O cálculo do índice de massa corporal pode servir como “sinal de alarme” e permitir um “diagnóstico precoce”, refere Luís Pereira da Silva. O médico destaca que, apesar de as novas gerações caminharem para viver mais tempo, o problema da obesidade coloca o risco de inversão da tendência.
O consumo excessivo de sal é outra falha, mas Manuel Carrageta diz ser “simples de melhorar”. O cardiologista recorda que a dieta mediterrânica é considerada a “dieta mais saudável que existe no mundo”. “As pessoas gostam daquilo que se habituam a comer. A dieta mediterrânica tem de existir desde a infância”, vincou.
Martim Silva com os convidados José Pereira Azevedo, Manuel Carrageta e Margarida Gaspar de Matos
Nuno Fox
Escola
Tudo começa em casa, mas a escola é o espaço onde as crianças e adolescentes passam grande parte do tempo. No caso da atividade física, Margarida Gaspar de Matos apontou que os estudos realizados mostram que os jovens que praticam menos consideram a oferta desportiva escolar “muito limitada”, além de apontarem problemas nas instalações, nomeadamente a dificuldade em proporcionar condições de higiene (por não ser possível tomar banho, por exemplo).
A psicóloga defende a necessidade de ouvir os mais novos para a identificação de problemas, ajudando-os a implementar as ideias apresentadas e, ao mesmo tempo, “fazê-los responsabilizar pelas suas decisões”.
José Pereira Azevedo coordena o projeto PLATE – Programa de Literacia Alimentar de Base Tecnológica nas Escolas
Nuno Fox
Quanto à literacia, desde a alimentar à financeira, José Pereira Azevedo considera que este tipo de programas deve continuar a existir nas escolas, mas é preciso também “restabelecer mediadores e níveis de confiança social”. O investigador sugere que os professores recebam “formação específica” na área da cidadania, o que permitiria adotar estratégias diferentes e mais eficazes.