Foi com enorme espanto da sociedade lisboeta que a 29 de julho de 1966, abriu o snack-bar Galeto, numa das mais nobres artérias da cidade, a avenida da República. Como curiosidade, a anunciada inauguração aconteceu dias depois de Portugal ter perdido com Inglaterra no mundial de futebol e uma semana antes da abertura da então Ponte Salazar, sobre o Tejo. De inspiração internacional, era, e ainda é, uma obra-prima de arquitetura, design e decoração. Desenhado por Victor Palla e Joaquim Bento d’Almeida, uma dupla de arquitetos ligada ao Movimento Moderno, autores de mais de 700 projetos e responsáveis pela modernização de inúmeros estabelecimentos comerciais, bem como pela introdução em Portugal do modelo norte-americano de snack-bar, o Galeto distinguia-se pela sofisticada decoração e pelo balcão, em madeira maciça, que ocupava, em ziguezague, toda a sala deste clássico da restauração lisboeta a caminho dos 60 anos de vida.
Galeto
MARIO CRUZ
António Oliveira foi um dos fundadores. Ao longo dos tempos adquiriu as quotas dos associados, transformando o Galeto em negócio familiar. Hoje, é a filha, Ana Paula Oliveira quem, com o marido, comanda as operações. O segredo do sucesso e da longevidade deve-se “à qualidade dos produtos utilizados e ao serviço de excelência prestado pelos funcionários, alguns com mais de 25 anos de casa”, sublinha Ana Paula. Sobre as razões para tão longo e grande sucesso, a responsável acrescenta duas razões: o célebre “Bife à Galeto” (€17,90) e o horário alargado de funcionamento, que se prolonga por quase 24 horas, das 7h30 até às 3h30, “sempre com a cozinha a funcionar”. Aliás, esclarece a herdeira do espaço, “verdadeiramente, a casa nunca fecha, porque as quatro horas de portas encerradas servem para arrumações e reposição do stock”.
Além de porto seguro para uma refeição a qualquer hora, “diz-se que o Galeto de manhã é um restaurante, de tarde outro e de noite outro ainda, muito diferente”, afiança Ana Paula. A prova está no constante entra e sai de clientes, desde o pequeno-almoço até ao fecho (no horário mais tardio, ou seja, após as 22h00, existe uma taxa extra em cada pedido), que encontram sempre uma opção, de uma simples torrada à potente “Língua de vaca com puré”
Galeto
MARIO CRUZ
Do pequeno-almoço aos combinados
Atente-se na “carta de combinados”, que integra pequeno-almoço (servido até às 12h00), lanches e ceia, além de diversas sobremesas (a oferta de cafetaria e pastelaria tem lista própria, sem esquecer as ementas de almoços e jantares e ainda a de gelados!). Ora, para as primeiras horas do dia, o Galeto tanto sugere um croissant ou pão de deus até ao farto “English Breakfast” (€12,50). Para o lanche ou para uma refeição rápida, a ementa aponta “Sanduíches abertas e clássicas”, servida em pão de forma. Como exemplo, referem-se a “Sanduíche aberta” de salmão ou de rosbife (€11) e a famosa “Sanduíche n.º 6” (€9,50), um clássico do Galeto, composta por frango, mortadela, paio, ovo cozido, cebola frita, alface, morrones e tomate, com a particularidade de estar “amparada” em duas fatias de pão de forma torrado. Seguem-se dezenas de opções que ajudaram a construir a fama da casa, dos diversos “Pregos”, incluindo o “com martelo”, da vazia ou do lombo, “Cachorros quentes”, “hambúrgueres” diversos em pão brioche e com opções menos comuns, como o que é servido com “crumble de farinheira” (€7,50), “Tostas”, “Ovos estrelados com bacon” (€8,35), “Omeletes” e até “Tortilha Espanhola”. A listagem desta oferta vocacionada para o balcão não estaria completa sem referência ao “Croquetes de carne” (€1,95) ou ao “Folhado de Chaves”.
Chega-se, por fim, aos famosos “Combinados” (entre €6,55 e €9,95) que nunca deixaram um cliente com fome. Com variações ao longo dos tempos, mantém-se ao serviço desde “Com sabor a Alentejo”, com pluma de porco ibérico grelhada, até à “Tortilha de marisco”, ainda que o destaque maior seja atribuído a “Com ovo a cavalo”, o combinado n.º 8, e ao “Um clássico do Galeto”, composto por hambúrguer, fiambre, cebola frita e molho tártaro, em tosta de pão de forma.
Galeto
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Almoços e jantares plenos
“Só encerramos um dia por ano”, e não é nem no Natal, nem no Ano Novo: “Fechamos a 1 de maio, Dia do Trabalhador”, desde 1974, após a Revolução dos Cravos, explica Ana Paula Oliveira. Pelo balcão e mesas do restaurante já passaram figuras de referência como Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares ou Paulo Portas. Para uma refeição rápida ou uma ceia tardia, a casa está aberta a todos e agora, sinal dos tempos, cada vez mais frequentada por turistas. A extensa ementa de almoços e jantares é quase um livro gastronómico, aberto ao mundo, mas com muitas raízes tradicionais portuguesas.
No capítulo das entradas, tanto se listam “Tártaro de salmão Gravlax marinado” e “Calamares fritos andaluzos” (€9,50), como “Salada de polvo da costa algarvia” (€10,50) para depois se entrar no conforto da “Canja de galinha” (€3,35), com miúdos, ou na perfumada “Sopa rica de peixe”. Nos principais existem sempre opções de grelha, tanto para peixes como para carnes. Do mar, conte com “Bacalhau à João do Porto” (€18,50), em que o lombo do fiel amigo é grelhado e servido com couve salteada e batata a murro, ou com “Filetes de peixe-galo fritos (€16,50), mas também com “Polvo assado à lagareiro”, “Tataki de salmão” ou “Lombinhos de tamboril marisqueiro”.
Da terra, é incontornável o “Bife à Galeto” (€17,90), servido desde a inauguração em 1966, com ovo estrelado e pickles, bem como a já referida “Língua de vaca” (€15,50), estufada lentamente com legumes e servida com puré de batata, as “iscas com elas”, ou o “Magret de pato”. As sugestões são reforçadas por diversos cortes para grelhar, como “Rib Eye Angus Beef” (€23,50) ou um clássico “Espeto misto de carnes”.
Snack-bar e restaurante Galeto, em Lisboa
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Homenagem ao início da aventura
Tendo em conta que o nascimento do Galeto remete para a passagem pelo Brasil dos seis sócios fundadores, a ementa do restaurante conta com uma área de “Especialidades Brasileiras”, com opções a passar pela “Feijoada” (€18,50), pela “Muqueca de camarão” e pelo “Churrasco Gaúcho”, entre outras sugestões.
Na próxima visita ao restaurante e snack-bar Galeto (Avenida da República 14, Lisboa. Tel. 213544444), atente aos detalhes, como as verdadeiras obras de arte onde repousam as ementas e procure pelo canto, onde um pequeno expositor exibe um santo. A imagem é de São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis. O Galeto integrou o guia “20 restaurantes que não passam de moda”, oferecido pelo Expresso, no âmbito dos 20 anos da marca Boa Cama Boa Mesa, e faz parte da rede de Lojas com História promovida pela autarquia lisboeta.
Galeto
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