Soma-se o facto de as instituições bancárias mundiais não aceitarem pagar o “preço” já calculado de cinco mil milhões de dólares para triplicar a produção de energia nuclear até 2050. A universidade George Washington alerta que a deterioração das condições de segurança nos principais mercados em crescimento pode também ameaçar a próxima vaga de renascimento da energia nuclear, antes mesmo dela começar.
“É difícil pensar como podemos triplicar a energia nuclear no mundo sem exacerbar o risco de proliferação, terrorismo, sabotagem, coerção e armamento”, disse a ex-diplomata do Departamento de Estado dos EUA, Sharon Squassoni, que liderou o estudo. E acrescentou ainda: “As abordagens para reduzir as emissões poluentes devem ter em conta as implicações para a segurança nacional.”
Para atingir as ambiciosas metas nucleares já traçadas, as economias mundiais terão de instalar 800 gigawatts (GW) de capacidade adicional nos próximos 25 anos, o que equivale a cerca de 30 grandes novos reatores nucleares a entrarem em produção anualmente até meados do século. E se gigantes como a China e a Rússia estão a apostar no nuclear à escala de GW, muitas economias ocidentais e emergentes reduziram as suas ambições.
Para contornar este problema estão já a ser projetados os chamados pequenos reatores modulares, capazes de gerar um terço ou menos da eletricidade produzida por uma unidade tradicional. O seu desenvolvimento e produção, a uma menor escala e em grande quantidade, poderá potenciar o surgimento de “milhares de novas fábricas adicionais”, refere o mesmo estudo.
No entanto, “a introdução em larga escala de pequenos reatores nucleares poderia aumentar os riscos”, disse a investigadora. O perigo mais evidente é que os países que estão neste momento em guerra visem diretamente instalações nucleares, como a Rússia fez na Ucrânia quando atacou a central nuclear de Zaporizhzhia, ou Israel contemplou fazer para perturbar o enriquecimento de urânio do Irão.
Os dados mostram que mais de três quartos dos 54 países que mostraram interesse na construção de minirreatores enfrentam instabilidade política moderada a grave.
Questionado sobre estes riscos, Rafael Mariano Grossi, da Agência Internacional de Energia Nuclear, disse à Bloomberg que embora os perigos sejam reais, é melhor promover a responsabilidade e segurança do que proibir ou travar o nuclear. “A questão não é instalar mais potência nuclear. É o processo de tomada de decisão dos homens e mulheres que decidem que vão atacar uma instalação nuclear”, rematou.