É o primeiro embate institucional. Apenas quatro dias depois do arranque da presidência húngara da União Europeia, o presidente do Conselho Europeu avisa o primeiro-ministro húngaro que “não tem mandato para dialogar com a Rússia em nome da UE”. O recado foi enviado através da rede social X, depois de começarem a surgir notícias de que Viktor Orbán se prepara para ir esta sexta-feira a Moscovo encontrar-se com Vladimir Putin, viagem que o líder húngaro não comunicou às instituições da UE.
Porquê uma mensagem nas redes sociais? Porque “houve numerosas tentativas” da parte de Michel para contactar Orbán “e foram todas mal sucedidas”, diz ao Expresso fonte europeia, adiantando que se o “primeiro-ministro tivesse perguntando, o Presidente Michel tê-lo-ia desaconselhado a visitar” o presidente russo.
Orbán não atendeu o telefone a Michel e, para já, a presidência húngara da UE também não confirma nem comenta as notícias da viagem a Moscovo, que estão a ser avançadas por um jornalista húngaro do Vsquare Project.
A comunicação entre as cúpulas das duas instituições – Conselho Europeu e Conselho da UE – não está a funcionar. O tweet não só denuncia a falha de comunicação, como mostra a preocupação com as intenções de um possível encontro de Orbán com Putin. O “tweet serve para lembrar a que presidência rotativa da UE não tem mandato” dos restantes para discutir com a Rússia”, sublinha a mesma fonte. No X, Michel escreve ainda que “O Conselho Europeu é claro: a Rússia é o agressor, a Ucrânia é a vítima. Nenhum debate sobre a Ucrânia pode ter lugar sem a Ucrânia”.
Ainda há dois dias, na terça-feira, Orbán esteve em Kiev para a primeira visita à capital ucraniana desde o início da guerra. Uma viagem na qual pediu a Volodymir Zelensky para refletir sobre a possibilidade de inverter a ordem e acelerar as conversações de paz, começando por um cessar-fogo”.
A Hungria tem sistematicamente insistido com os restantes para que discutam a posição da UE em relação à Ucrânia, defendendo a ajuda humanitária a Kiev, mas recusando participar na ajuda militar que, do ponto de vista de Budapeste, contribui para a continuidade do conflito. Os restantes países europeus têm sempre rejeitado esta visão. O primeiro-ministro húngaro também foi contra a abertura de negociações de adesão com a Ucrânia, mas acabou por permitir que avançassem. Viktor Orban foi até agora o único líder europeu a encontrar-se com Putin desde fevereiro de 2022.
“O primeiro-ministro está empenhado na paz”, afirmou esta manhã Zoltán Kovács, em Budapeste, num encontro com vários correspondentes europeus, no qual participou também o Expresso. O ministro húngaro para a comunicação internacional argumentava que “continuar a dar armas só garante a continuidade de uma banho de sangue sem sentido”. Questionado sobre o papel da Hungria, responde que podem tentar pressionar as conversas de paz, mas que a resolução da guerra será feita pelos EUA e a Rússia.
“Não esperem que um Estado-membro europeu de média dimensão tenha uma voz decisiva sobre o que está a acontecer. Estamos a tentar ter uma voz decisiva para ter uma conversa sobre tréguas e conversações de paz. De facto, o que acho é que não vai ser a União Europeia que vai dizer o que vai acontecer na Ucrânia. Vão ser os americanos e os russos”, afirmou Kovács.