Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP) e membro do Banco Central Europeu (BCE), defende que a aceleração dos salários na zona euro no início deste ano não é um factor de preocupação no que toca à evolução da inflação e à condução da política monetária, segundo afirmou em declarações à agência Bloomberg.
O mercado financeiro espera que o BCE corte a taxa diretora em junho e que as taxas Euribor caiam até dezembro. No entanto, teme-se que se descontarmos a inflação as taxas de juro até acabem por subir este ano.
No primeiro trimestre deste ano o indicador dos custos salariais na zona euro divulgado pelo BCE apresentou um crescimento homólogo de 4,69%, quase 0,2 pontos percentuais acima do crescimento de 4,5% registado no quarto trimestre de 2023.
“Não faço uma grande leitura dos 0,2 pontos”, afirmou Mário Centeno à Bloomberg, à margem de uma conferência em Reiquiavique, na Islândia. E considerou: “A recuperação dos salários reais é compatível com a convergência da inflação para 2%”.
Mário Centeno mostrou-se otimista quanto ao relançamento da economia da zona euro, afirmando que acredita, em conjunto com os seus colegas do BCE, que o recuo nos preços no consumidor continue.
“Uma certa retoma da economia da zona euro não porá em causa o processo de desinflação”, frisou na passada sexta-feira. E acrescentou: “A recuperação dos valores da produtividade, que não foram positivos nos últimos dois anos, ajudará a garantir o processo de desinflação”.
A Bloomberg salienta que a trajetória da política monetária não é clara. Os investidores reduziram as apostas nos cortes das taxas de juro na sequência dos dados salariais e dos sinais de que recuperação da economia da zona euro está a ganhar força.
A agência nota que as declarações do governador do BdP podem indicar que ele considera a reação do mercado exagerada. E a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou este mês que a inflação está “sob controlo”.
Em sintonia, o governador do banco central francês, François Villeroy de Galhau, também desvalorizou a subida salarial na zona euro, defendendo que o BCE também o deve fazer e dizendo que as autoridades continuam “confiantes no processo de desinflação”. Madis Muller, do banco central estónio partilha da mesma opinião.
O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, foi mais cauteloso, mas não excluiu a hipótese de mudança de taxas de juro no outono. E defendeu que é preciso esperar para ver o que acontece em junho. quando os banqueiros centrais do euro se reunirem em Frankfurt.