A cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, Catarina Martins, e o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, atacaram neste sábado o PS e o PSD por recusarem o modelo de debates televisivos proposto para a campanha eleitoral das europeias com todos os partidos concorrentes com assento parlamentar. De esferas políticas opostas, os dois políticos convergiram na acusação de que os dois maiores partidos estão a querer “esconder” os seus candidatos.
“Soubemos ontem [sexta-feira] que o PSD e o PS estão a tentar impedir que se façam debates para as eleições europeias com a participação de todos os partidos. Eu diria que é um ataque à democracia”, afirmou Rui Rocha aos jornalistas à margem de uma visita à feira agro-pecuária Ovibeja. Os dois partidos “não querem que os portugueses tenham o conhecimento necessário” sobre os candidatos e as propostas das restantes forças políticas, apontou.
“Ninguém acredita que não se fazem os debates porque isso prejudica a campanha de rua”, salientou Rui Rocha, contrapondo que “os debates são muito importantes, chegam a muitas centenas de milhares de pessoas e esclarecem os portugueses”. O presidente da IL afirmou ainda que o Chega “certamente reclamará sobre esta questão, mas tem interesse em que o seu candidato fique escondido, porque tem simpatia pelo regime de Putin e pelo regime da Rússia”.
Em Lisboa, Catarina Martins iniciou a sua intervenção no encontro “Segurança Social e pensões” abordando este tema, indicando que alterou a sua agenda para conseguir estar nos frente-a-frente televisivos. “Soubemos ontem [sexta-feira] à noite que PSD e PS afinal não querem fazer debates entre cabeças de lista às europeias. Não deixo de registar que quem diz tantas vezes que é preciso combater a abstenção, quem diz tantas vezes que a política europeia é muito importante, quando chega ao momento de debater, acha melhor não debater”, afirmou.
A antiga líder do BE acusou estes dois partidos de terem apresentado “argumentos ridículos, como há 28 debates em 30 dias” e referiu que cada candidato “só tinha de fazer sete debates”, defendendo que participar em “sete debates em 30 dias está seguramente à altura de qualquer pessoa que leva as eleições e a democracia a sério”.
Já em declarações à Lusa e à RTP depois da abertura do encontro, a cabeça de lista do BE considerou que não haver debates “é absolutamente inaceitável” e que este formato permite “que as várias propostas estejam em confronto”. “O Bloco Esquerda já aceitou a proposta de haver debates entre todos os cabeças de lista. Achamos é que tem mesmo de haver debates entre todos os cabeças de lista, porque frente a frente é que se trocam ideias”, defendeu Catarina Martins.
A cabeça de lista disse desconhecer a nova proposta, mas insistiu que deve haver “debates entre todas as candidaturas”. Apontando que “não é a primeira vez que há frente-a-frente entre os vários cabeças de lista, porque quando não houve acordo entre todas as televisões, a RTP já fazia isso”, a candidata considerou que “a novidade será se não houver desta vez” esses debates a dois. “Seria absolutamente inaceitável. Espero uma nova proposta, mas parece-me que a que existia é a proposta possível e é a que cumpre com a democracia”, salientou.
“Percebo que Sebastião Bugalho esteja mais habituado a dar notas aos debates dos outros do que a debater e a ter de mostrar as suas próprias ideias; que Marta Temido lhe faça o frete, acho absolutamente inaceitável”, criticou, sugerindo que talvez PS e PSD “prefiram até que não haja campanha para as europeias”.
Catarina Martins afirmou que “a direita foi buscar um candidato que é comentador, mas que, na verdade, nunca teve que estar a defender ideias com contraditório” e indicou que “defender ideias com contraditório é difícil, mas é assim mesmo que é a democracia”.
De acordo com o jornal Expresso, o PS e a Aliança Democrática (AD) recusaram o modelo de debates proposto pela RTP, TVI e SIC para as eleições europeias de 9 de Junho, no qual estavam previstos 28 frente-a-frente entre os cabeças de lista dos partidos com representação na Assembleia da República. Estas forças políticas alegaram tratar-se de um número elevado de duelos, que afectaria a campanha eleitoral, e admitiram aceitar um calendário mais leve.