“Empresarialização” das universidades
A “empresarialização” das universidades é um dos traços mais sinistros do incremento neoliberal da mercantilização do saber. Mas houve um tempo em que se guardava ciosamente tal segredo de polichinelo. Já passou, porém, esse tempo. É sem pudor algum, de facto, que hoje se anuncia publicamente o carácter económico, strictu sensu, da actividade desenvolvida pelo ensino superior, cujo corolário passa a ser o seguinte: “A produção de conhecimento deve ser uma consequência dessa actividade económica” (PÚBLICO, 25/5/24). Nestas palavras do Presidente da Associação de Universidades Privadas, António Almeida Dias, reflecte‑se o pensamento unidimensional do neoliberalismo, de acordo com o qual, claro está, alunos e professores são, respectivamente, clientes e prestadores de serviços. Ora, sabemos bem os efeitos deletérios da subordinação da gestão das instituições universitárias aos critérios capitalistas de rendibilidade financeira de curto prazo, merecendo destaque, entre outros, o afunilamento tecnocrático da investigação científica, a desnaturação clientelar da relação pedagógica e, acima de tudo, a ruína das Humanidades.
Eurico de Carvalho, Vila do Conde
IRS Jovem
Li com muito agrado e total concordância o artigo de opinião da autoria de Ricardo Arroja sobre o IRS Jovem (PÚBLICO de domingo), que está a tornar-se um caso de estudo sobre o malfazer em matéria fiscal e, já agora, de tremenda injustiça fiscal. O projecto do PS, apesar de tudo, era menos mau, por prever um limite temporal mais curto; o da AD revela-se ainda pior, pois alarga bastante a duração do benefício. Os impostos devem ser equilibrados, equitativos e iguais para todos os cidadãos, e se hoje nos lembramos de isentar os jovens, por que não amanhã outro grupo qualquer. Em Portugal, aproximadamente metade da população já não paga IRS e se continuamos assim, a apertar a malha dos que pagam, qualquer dia apenas uma pequena franja da população paga este imposto – prefiro chamar-lhe esta autêntica extorsão –, além de me parecer que não vai ser por esta poupança que os jovens, mais ou menos qualificados, resolvem deixar de procurar melhores destinos. E finalmente alguém, de preferência o ministro das Finanças, deverá explicar aos portugueses de que árvore das patacas irão surgir os mil milhões de euros de que se fala. Espero sinceramente que esta proposta não passe no crivo da Assembleia da República.
Carlos Duarte, Lisboa
As prendas do Governo
O Governo decidiu presentear os jovens com uma importante redução do IRS, medida que os jovens saberão, pensa o Governo, agradecer, deixando de emigrar em massa e votando em quem tão preciosamente os contempla. A medida é perdulária na medida – passe a repetição do termo – em que pode garantir, para os rendimentos mais altos, poupanças superiores à dezena de milhar de euros anuais, e, por isso, nenhum jovem quererá fazer 36 primaveras, já que o choque fiscal que o espera não é pêra doce. Talvez a nossa emigração qualificada se passe a fazer a partir daquela idade, obrigando o Governo a estender a benesse até quando, por preguiça ou por inércia, já ninguém emigra.
A “classe” a que pertenço, chamada 3.ª idade, também tem sido contemplada com algumas prendas. Não tendo nada semelhante em valor monetário, tem, porém, passes de autocarro e metro gratuitos ou a custo módico, presente do Governo ou das autarquias. Com ele podem fazer bom exercício da porta de casa à paragem do autocarro e desta ao banco do jardim, sem grande esforço económico, com isso aumentando o seu tempo de vida (in)útil e baixando assim as taxas de ocupação de outros bancos, os dos centros de saúde e os dos bancos de urgência nos hospitais, aqueles cujas taxas de procura o Estado quer diminuir.
Assim proporciona o Governo a baixa das taxas. Para os mais jovens as do imposto, para os mais velhos as de procura nos bancos do SNS. Aleluia!
Jorge Mónica, Parede
A Jangada de Pedra
Zelensky está de visita ao espaço mais ocidental da Europa – Portugal e Espanha –, após a criminosa invasão da Ucrânia pela Rússia. Talvez com o intuito de tal espaço europeu não zarpar oceano adentro, como ficcionalmente José Saramago escreveu no seu romance, com o título acima epigrafado, e o ajude também a defender-se do invasor.
A Europa, hoje mais do que nunca, deve cerrar fileiras para suster as sinistras intenções expansionistas do ditador Putin, pois parece não existir espaço terreno que o contente, sendo, assim, o maior açambarcador dos nossos tempos. O problema que existe no mundo democrático, por ser isso mesmo, é dar liberdade a todos que o procuram e, por isso, dá guarida a muitos defensores extremistas que conspiram contra quem os acolhe e são acólitos acérrimos de tais criminosos autocratas. Fingem-se defensores da paz, mas são coniventes com tais criminosos que a espezinham.
José Amaral, Vila Nova de Gaia