Ao longo de três anos, mais de 40 migrantes morreram no Mar mediterrâneo por terem sido forçadas a sair das águas gregas pela a guarda costeira da Grécia, incluindo nove pessoas que terão sido deliberadamente atiradas à água, revela a BBC.
O antigo chefe de operações especiais da guarda costeira grega, Dimitris Baltakos, negou todas as acusações de atividades ilegais e rejeitou especular sobre as imagens que a BBC lhe mostrou durante a entrevista. Contudo, num intervalo na entrevista, ouve-se alguém a afirmar em grego: “É muito claro, não é? Não é física nuclear. Não sei por que o fizeram em plena luz do dia… É obviamente ilegal. É um crime internacional”.
No vídeo, gravado pelo ativista austríaco Fayad Mulla e publicado pelo jornal “The New York Times”, que foi mostrado ao ex-membro da guarda costeira é possível ver 12 pessoas, incluindo mulheres e crianças, a serem conduzidas para um barco da guarda costeira grega, sendo posteriormente abandonadas à deriva numa jangada. O ministério grego dos Assuntos Marítimos e da Política Insular garantiu que o vídeo estava a ser investigado por uma autoridade independente.
O grupo de migrantes acabou por ser resgatado pela guarda costeira da Turquia, mas esta situação é apenas um entre as quinze, ocorridas entre maio de 2020 e 2023, e que resultaram na morte de 43 pessoas.
De acordo com várias testemunhas, em cinco dos acidentes, os migrantes foram atirados para o mar diretamente pelas autoridades gregas. Também existem relatos de que a guarda costeira colocou os migrantes em jangadas insufláveis sem motor, que se esvaziaram ou pareciam ter sido furadas.
“Mal havíamos atracado, e a polícia apareceu por trás [de nós]”, relatou um migrante de Camarões, que pretendia registar-se como requerente de asilo quando chegou à ilha de Samos, na Grécia, em setembro de 2021. As autoridades encaminharam o homem e mais dois migrantes, de Camarões e da Costa do Marfim, até um barco da guarda costeira.
Quando estavam em alto-mar, atiraram um dos homens à água, que acabou por se afogar. O camaronês, entrevistado pela BBC, relata que também foi atirado à água sem colete de salva-vidas, mas conseguiu nadar até à costa, enquanto os seus companheiros foram encontrados sem vida na costa da Turquia.
Os advogados deste sobrevivente pressionaram as autoridades gregas para iniciar uma investigação de duplo homicídio, que foi também verificada por uma reportagem do jornal “The Guardian”, em colaboração com o consórcio de investigação Lighthouse Reports, o jornal francês “Mediapart” e a revista alemã “Der Spiegel”.
Governo grego lida com acusações de regressos forçados e negligência há vários anos
Estas alegações juntam-se a uma crítica antiga de negligência por parte da guarda costeira grega. Os ativistas acusam as autoridades gregas de regressos forçados, ao empurrar os migrantes das águas territoriais gregas para as turcas ou colocando-os de novo no mar. Ambas são ações ilegais à luz do direito internacional.
Em junho de 2023, a ação das autoridades costeiras gregas foi criticada pelo seu papel no maior naufrágio de migrantes no mar Mediterrâneo na última década. Estima-se que mais de 600 pessoas tenham morrido após um barco se ter afundado nas águas territoriais da Grécia. A guarda costeira grega insistiu que o barco não apresentava problemas e que chegaria a Itália em segurança, por este motivo não houve nenhuma tentativa de resgate.
Número de chegadas, mortes e desaparecimentos no mar Mediterrâneo
Prevê-se que este ano a travessia de migrantes no Mediterrâneo registe o nível mais elevado desde 2016, de acordo com o relatório de 2024 do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Política Migratória. A crise humanitária no Sudão deverá piorar ao longo deste ano, o que irá contribuir para um maior fluxo migratório, além da instabilidade política e deterioração das condições de vida nos países da África Subsariana e do Sael, aponta ainda o relatório.