Falta menos de um mês para as europeias. A Comissão Nacional de Eleições instou a SIC a assegurar que a sua programação, incluindo programas humorísticos, dá o mesmo tratamento às candidaturas eleitorais. Ao que parece, a CNE recebeu participações que denunciavam a ausência de candidatos do Chega nas edições do Isto É Gozar Com Quem Trabalha emitidas durante a campanha para as legislativas. Conclui o órgão independente que a SIC deve compensar o partido de Ventura com mais visibilidade no resto da grelha.
Sou membro da equipa de autores do programa. Devo dizer que até estaria entusiasmado com a possibilidade de sermos forçados a receber Tânger Correia. Seria confrangedor para o candidato? Talvez não. Como embaixador, já terá estado inúmeras vezes em locais onde não é bem-vindo. O problema é que, no fim da última semana, Tânger Correia deu uma imbatível entrevista humorística ao Observador. O candidato do Chega devia ter esperado pela deliberação da CNE para proferir afirmações ridículas – desta vez, em sede própria.
Depois de asseverar que judeus podem ter sido informados previamente do 11 de Setembro, a vinda de Tânger Correia ao IEGCQT seria uma redundância. Sim, sim, informados previamente. Como é óbvio. Consta que a Al-Qaeda fez uma story nos “amigos chegados” só para alertar os judeus para que não se aproximassem das torres. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa, não esperava que um político português expressasse declarações ainda mais absurdas sobre gémeas.
Falar sobre o equilíbrio no destaque que os meios de comunicação dão a determinados partidos é um tema relevante. Quando a CNE se cansar de escrutinar o segmento humorístico de meia hora semanal, talvez arranje tempo para olhar para os segmentos jornalísticos de informação contínua. Por exemplo, sabiam que este fim-de-semana houve um congresso do Livre? Eu sabia. Porque me cruzei com um militante do Livre que me informou desse facto.
Se fosse um congresso do Chega, haveria mais directos nas televisões do que na véspera da estreia de Portugal no Euro 2004. O que é pena, porque a situação interna do Livre também produz material, inclusive humorístico. Pode não haver tanto primarismo, mas há confusão com as primárias.
Sobre a polémica da vitória interna de Francisco Paupério, devo dizer que não é assim tão inusitado que existam problemas com regulamentos no Livre. É que o partido faz lembrar o clássico grupo de choninhas que só discute por causa de jogos de tabuleiro.
Aliás, têm um candidato às Europeias indesejado pela direção porque se esqueceram que as primárias não são o Uno: por muito que as regras sejam estúpidas, não se mudam a meio. O Livre continuará a ser uma empresa unipessoal se não concluir que a política interna do partido é como o Trivial Pursuit: mesmo que fique amuado quando não o deixam participar, não pode ganhar sempre o historiador.
Em todo o caso, Francisco Paupério tem um ar demasiado conciliador para acabar numa situação paralela à de Joacine Katar Moreira. Só o vejo discutir acesamente com o Rui Tavares se o tema for o cinema francês dos anos 60. Não será a nova Joacine. Quando muito, um Joacinéfilo.