Nasceu em Lisboa em 1974. Viveu parte da infância com os pais e avós maternos, em Benfica, mas foi na linha de Cascais que cresceu. Na altura, a família deixou a casa no Estoril para que a mãe pudesse estar mais próxima dos avós que tinham problemas de saúde.
“Para o meu avô ter perdido a audição não foi uma limitação. Tinha muita admiração por ele. Aprendi a ler e a escrever mais cedo para conseguirmos comunicar”, conta.
O avô materno, comunista, lia-lhe revistas da União Soviética. Os pais, soaristas, levaram-na a comícios e não esquece os famosos autocolantes: “Soares é Fixe”.
Economia dia a dia
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Foi sempre incentivada pela avó e pela mãe para lutar pelos direitos das mulheres e hoje lidera uma das maiores empresas em Portugal. “Se a minha avó fosse viva teria, certamente, muito orgulho em mim e na minha irmã”, acrescenta.
Estudou na Escola Beiral, com um método de ensino mais liberal, e quando falava com os amigos percebia as diferenças entre o ensino público e o privado. “Nunca recebi uma nota, privilegiava-se a diferença e cada um tinha um valor por si próprio”, recorda.
Foi pela mão do avô que deu os primeiros passos no ténis, ofereceu-lhe a primeira raquete. O desporto é hoje uma forma de “meditação”. Era com o avô que ia ver os jogos do Benfica, mesmo com um pai “ferrenho” do Sporting.
Money Money Money
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Licenciou-se em Administração e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Economia e Gestão. Entrou para a Altice Portugal em 2003.Em 2018 foi viver para a República Dominicana sem nunca ter estado no país, “nem de férias”. Foi a primeira mulher a presidir uma operadora de telecomunicações naquele país. Foram tempos “extremamente exigentes”, principalmente por causa da pandemia. “Eram 4 milhões de clientes, o país, dependente de nós porque era tudo feito de forma remota”, recorda.
Foi nomeada diretora executiva da Altice em 2022 e acredita que o mundo está a mudar. “Um CEO é a cola de toda uma organização. Tem de definir uma visão, comunicar e mobilizar a equipa. É um trabalho desgastante e muito físico”, confessa.
Um ano depois de assumir o cargo a empresa viu a sede, em Lisboa, ser alvo de buscas pelo MP e pela Autoridade Tributária. Admite que a “Operação Picoas” não teve qualquer “impacto” na marca, mas causou pressão nas equipas. “Aquilo não era um problema. Reuni com os colaboradores e expliquei-lhes que um problema era deixar 4 milhões sem rede e sem serviço. E isso aconteceu comigo, na República Dominicana, tivemos de comprar cartões à concorrência para comunicar entre nós”, relembra.
Ser ou não ser
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Ana Figueiredo é a nova convidada do novo episódio do Geração 70. Trabalha num mundo onde o sucesso ainda é muito masculino, mas acredita que se fosse homem não sabe se teria chegado até aqui. Não colhe a ideia de que as mulheres não trabalham bem juntas, prefere a diversidade, e assume que uma das desilusões que tem com Portugal é a falta de “irreverência”, provocada pelas “promessas” não cumpridas, “falta de pontes” e obrigação de “pertencer ao lado A ou B”.
“Em Portugal as grandes empresas têm vergonha de se assumirem como grandes. O país lida mal com o sucesso e construiu-se uma desconfiança perante o lucro”, comenta.
Geração 70 não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão