Dependendo da perspectiva, se é israelita ou é palestiniana, esta segunda-feira é um dia comemorativo ou simplesmente infame.
Em Israel, o dia 13 assinala o aniversário da independência, em 1948, do país. Por sua vez, a Palestina assinala a “Nakba”, termo árabe que significa “catástrofe”, uma vez que a criação do Estado de Israel representou um êxodo de cerca de 760.000 palestinianos das suas casas e das suas terras.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, assinalou, naturalmente, a primeira leitura da História, lembrando, em comunicado, que os EUA “foram o primeiro país a reconhecer o estatuto do Estado israelita”.
Blinken lembrou também que os EUA e Israel partilham “valores democráticos, comerciais, laços culturais profundos” e, numa perspetiva de “parceria e amizade”, partilham “empenho na segurança regional”.
É este o mesmo Antony Blinken que, contudo, numa conversa telefónica com o responsável pela Defesa de Israel, horas antes, expressou forte oposição à “grande operação militar terrestre” em Rafah, na Faixa de Gaza.
Na conversa entre Antony Blinken e Yoav Gallant, o primeiro sublinhou ser necessário “proteger os civis e os trabalhadores humanitários” na Faixa de Gaza, exigindo de Gallant a garantia de que a assistência humanitária possa chegar.
A verdade é que a situação em Rafah, refúgio último dos habitantes da Faixa de Gaza, é crítica: o exército israelita, no fim-de-semana, impôs novas deslocações forçadas à população, mantendo encerrada a passagem por onde se faz a entrada de ajuda humanitária.
Hoje, o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza alertou esta segunda-feira que, ao fim de sete meses em guerra com Israel, o sistema de saúde naquele enclave palestiniano está “a horas de entrar em colapso”, isto devido à “falta do combustível necessário para operar geradores hospitalares, ambulâncias e transporte de pessoal”.
Nos EUA, o movimento de protesto pró-Palestina que começou há quase três semanas em universidades do país (e que se estendeu a diversos outros, incluindo Portugal) mereceu esta segunda-feira a condenação do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
“Para onde vão os Estados Unidos? Irão sucumbir a esta loucura, a estas multidões nessas universidades, a este antissemitismo flagrante que está a varrer o mundo? O destino do mundo depende do rumo que os Estados Unidos tomarem”, afirmou Benjamin Netanyahu numa entrevista ao colunista norte-americano Dan Senor.
Não foi a única posição contra tais protestos. Num discurso de campanha em Nova Jérsia, o antigo Presidente (e novamente candidato) Donald Trump garantiu: “Quando eu for Presidente, não permitiremos que as nossas universidades sejam tomadas por radicais violentos. E se vierem de outro país e tentarem trazer o jihadismo, o antiamericanismo ou o antissemitismo para os nossos campus, deportá-los-emos imediatamente”.
Sobre o conflito em Gaza, Donald Trump assumiria simplesmente: “Não teria havido guerra em Gaza comigo na Casa Branca. Nem sequer teria havido essa hipótese”. O que teria ele feito? Como teria ele impedido o escalar do conflito? Não respondeu.
Em Portugal, o conflito também gerou declarações de altos responsáveis políticos e religiosos. Na religião, no final da peregrinação de maio ao santuário da Cova da Iria, o bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, considerou a morte de crianças em Gaza “o escândalo dos escândalos”.
“Daqui, da Cova da Iria, apelamos à paz. O conflito é inconcebível para o coração de Deus”, considerou José Ornelas, lembrando que é necessária “paz na terra de Jesus, a Palestina”. Lá, na Palestina, “onde mais de 35 mil pessoas já perderam a vida” e onde, diz, “há mães que não sabem o que fazer para ajudar e manter em vida os seus filhos”.
“Não se pode admitir [que Israel] impeça a chegada da ajuda alimentar necessária para mais de um milhão de pessoas que estão a morrer de fome”, condenou o bispo de Leiria-Fátima.
Quem não quis condenar Israel nesta segunda-feira foi o ministro dos Negócios Estrangeiros português. Paulo Rangel recusou mesmo, numa entrevista ao jornal espanhol El País, chamar “genocídio” ao que se está a passar na Faixa de Gaza, afirmando ser “injusto” (apesar de reconhecer a “catástrofe humanitária” que “exige condenação”) dizer-se que Israel pretende eliminar o povo palestiniano.
“O genocídio pressupõe a vontade de eliminar um povo. Seria muito injusto dizer que Israel pretende eliminar o povo palestiniano. No entanto, Portugal entende que o Estado israelita enfrenta uma ameaça existencial. Isto também não deve ser escondido”, afirmou Paulo Rangel, apelando, do lado israelita, a um “cessar-fogo imediato” e apelando igualmente a que a comunidade internacional “exerça grande pressão sobre o Governo [israelita]“.
Falando ainda sobre o reconhecimento da Palestina como Estado, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que Portugal “tem uma posição muito próxima — embora não seja exatamente a mesma” a outros países (como Espanha) que já o fizeram.