Um ataque da Força Aérea israelita atingiu no domingo uma zona de tendas com pessoas deslocadas em Rafah, matando pelo menos 50 pessoas, segundo as autoridades de Saúde de Gaza, e começando um incêndio que provocou uma grande destruição no local.
“Os ataques queimaram as tendas, as tendas estão a derreter e os corpos das pessoas também”, disse um dos feridos que recebeu tratamento hospitalar citado pela agência Reuters. As imagens do ataque eram descritas uma e outra vez como “imagens do inferno” – a destruição das explosões que deixou corpos desmembrados, as chamas em tendas de plástico que deixaram corpos carbonizados.
A organização Médicos Sem Fronteiras relatou na rede social X (antigo Twitter) que mais de 15 mortos e dezenas de feridos pelo ataque foram levados para um centro de estabilização de trauma apoiado pelo grupo. “Mais uma vez, o ataque mostra que não há segurança em lado nenhum” em Gaza.
A agência da ONU de apoio aos refugiados palestinianos (UNRWA) afirmou que as imagens terríveis do ataque mostram que Gaza é “o inferno na Terra”. A relatora especial das Nações Unidas para os territórios palestinianos ocupados, Francesa Albanese, declarou que o ataque prova que Israel desafia o direito internacional e pediu sanções.
O alvo do ataque foi o bairro de Tel Al-Sultan na zona ocidental de Rafah, para onde milhares de pessoas tinham fugido da incursão na zona oriental da cidade que começou há mais de duas semanas.
Um porta-voz do Exército israelita citado pelo diário Haaretz disse que o ataque foi dirigido contra dois comandantes do Hamas “de acordo com o direito internacional, usando munições precisas, e com base em informação prévia dando conta da utilização do local pelo Hamas”.
O Exército “está ciente da afirmação de que como resultado do ataque foram atingidos alguns indivíduos não envolvidos”, acrescentou o porta-voz, e “o incidente está a ser examinado”.
Esta segunda-feira, a procuradora militar Yifat Tomer-Yerushalmi descreveu o ataque como “muito grave”, segundo o diário Haaretz.
Ainda no domingo, foram disparados oito projécteis da zona de Rafah contra Telavive, na primeira vez em quase quatro meses que o Hamas lança um ataque contra a zona central de Israel e não apenas contra as zonas mais próximas da Faixa de Gaza.
A maioria dos projécteis foram interceptados, com o ataque a provocar alguns ferimentos ligeiros.
A emissora britânica BBC comenta que esta a decisão do Hamas quebrar a clama relativa no centro económico de Israel pode ter a ver com as conversações para um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns e prisioneiros palestinianos, que o Hamas pode estar a tentar mostrar força para melhorar a sua posição negocial ou estar a tentar prejudicar as negociações, que foram interrompidas e recomeçam nesta terça-feira.
Espanha quer apoio da UE ao TIJ
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, declarou numa conferência de imprensa em Bruxelas com os seus homólogos irlandês e norueguês que o ataque contra Rafah mostra a necessidade de um cessar-fogo imediato (os três países anunciaram na semana passada que iriam levar a cabo um reconhecimento oficial de um Estado palestiniano).
“Mas a gravidade [do ataque contra Rafah] é ainda maior porque acontece depois de uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça”, declarou, lembrando que as decisões do Tribunal Internacional de Justiça, a mais alta instância judicial da ONU, são vinculativas (uma diferença em relação ao Tribunal Penal Internacional, cujas decisões vinculam apenas os países que ratificaram o Estatuto de Roma que o criou, o que exclui assim Israel e os Estados Unidos).
Albares disse ainda que vai pedir oficialmente aos outros Estados membro da União Europeia para declarar o seu apoio ao Tribunal Internacional de Justiça e à sua decisão. A Alemanha, forte aliado de Israel, já o fez.