Líder socialista fez duras críticas sobre a audição à mãe das gémeas luso-brasileiras na CPI que apelidou de “degradação máxima do Parlamento”. Sobre o Chega, Pedro Nuno Santos acredita que a maioria dos votantes no partido deve ter-se sentido “envergonhada” pela atuação do seu líder na sexta-feira.
Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, fez duras críticas à atuação de André Ventura e do Chega na Comissão Parlamentar do Chega, nomeadamente na audição à mãe das gémeas luso-brasileiras tratadas no SNS com um medicamento avaliado em quatro milhões de euros.
Presente na cidade do Porto para celebrar o São João, e questionado se aceitava brindar com André Ventura, Pedro Nuno Santos foi taxativo: “Com André Ventura não faria um brinde de certeza. O Chega representa tudo aquilo que combatemos na sociedade portuguesa”.
“Aquilo que assistimos na sexta-feira foi a degradação máxima do Parlamento e dos deputados no papel que fazem. Envergonhou-me ter assistido à forma como o Chega e André Ventura trataram uma mãe que fez tudo para salvar as suas filhas. O líder do Chega revelou total ausência de empatia”, acusou o líder socialista.
Para Pedro Nuno Santos, é muito provável que a maioria do universo de votantes no partido liderado por André Ventura nas últimas legislativas não pode sentir-se representado pela audição a Daniela Martins: “Houve um milhão e tal de pessoas que votaram no Chega nas últimas legislativas. Tenho a certeza que a maioria estão envergonhados pela forma como o Chega tratou uma mãe em direto”.
Em audição parlamentar que durou cinco horas, Daniela Martins sublinhou em vários momentos que ouviu “muitas vezes que estava no hospital a mando do Presidente da República” e realçou que “somente conheci a nora do Presidente da República num evento em São Paulo anos depois de ser administrada a medicação”
“Nunca conheci o Presidente da República nem o seu filho. Numa conversa informal, vangloriei-me e disse que os médicos receberam ordens de cima. Fui parva, errei porque disse algo que não verdade”, destacou perante os deputados.
Daniela Martins confirmou que nunca conheceu “ninguém” ligado ao poder político e que “se houve alguma interferência, algum pedido, não tenho como saber isso”. No entanto, reconheceu que a única exceção foi a marcação da primeira consulta.
A mãe das gémeas deslocou-se esta semana a Portugal para prestar declarações aos deputados portugueses na Assembleia da República. O caso das gémeas luso-brasileiras remonta a 2020, quando as crianças residente do outro lado do Atlântico receberam o medicamento Zolgensma, que teve um custo total de quatro milhões de euros, sendo um dos medicamentos mais caros do mundo, para o tratamento de Atrofia Muscular Espinhal.
O caso foi divulgado pela “TVI” em novembro do ano passado e está atualmente a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, analisando as influências políticas que terão sido feitas para as crianças receberem o tratamento. As gémeas adquiriram nacionalidade portuguesa em janeiro de 2020, tendo conseguido a consulta de neuropedriatria no Hospital de Santa Maria em junho do mesmo ano para avançar com o tratamento.
Uma auditoria da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) concluiu que o acesso a esta primeira consulta, para avaliação de tratamento, em Santa Maria, foi ilegal. De facto, uma auditoria interna do hospital veio provar que a marcação desta consulta pela Secretaria de Estado da Saúde (então liderada por Lacerda Sales) foi a exceção ao cumprimento de todas as regras.
Desde o início do mês que o Ministério Público tem avançado no caso, tendo realizado, inclusivamente, buscas nos Ministérios da Saúde e Segurança Social, na Secretaria de Estados, domiciliárias ao ex-secretário e ao ex-diretor clínico Lacerda Sales. Desde então, António Lacerda Sales e Luís Pinheiro, então diretor clínico de Santa Maria, foram constituídos arguidos no processo das gémeas, com Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República português, a juntar-se à lista de arguidos esta semana.
Nuno Rebelo de Sousa é acusado de tentar exercer influências políticas junto do pai e do Ministério da Saúde, com Lacerda Sales a ser suspeito por, alegadamente, ter marcado a consulta das crianças.