A última Cimeira do G7 poderia assemelhar-se a um chá da tarde de despedida de velhos companheiros prestes a aposentar-se involuntariamente. Daqueles que participaram, quatro deles, provavelmente, não retornarão à Cimeira de 2025, no Canadá.
Num mundo desestabilizado por duas guerras de enorme impacto global – uma, na Ucrânia, que afeta a Europa, que vem empobrecendo drasticamente, e outra, em Gaza, que deteriora a própria razão da existência das Nações Unidas – além do incremento da onda protecionista, cujo objetivo é conter a China e os enormes benefÃcios da globalização, a Cimeira não correspondeu à s necessidades e crises globais.
A agenda foi ditada pelos Estados Unidos. Com a liberação de um empréstimo de 50 bilhões de dólares à Ucrânia, utilizando juros dos ativos russos congelados como colaterais, a iniciativa – por mais que digam o contrário – é um cravo fincado na competitividade da Europa como mercado financeiro global, uma vez que gera sérias dúvidas quanto a manter seus ativos no continente.
Sucumbir a esta demanda norte-americana terá um alto custo e fuga de capitais da Europa. Afinal, paÃses ricos furtarem os ativos de estados soberanos para fazerem bondade com o chapéu alheio não é uma conduta pristina. Kyiv deveria desconfiar da fiabilidade de seus parceiros, que prometem recursos próprios e usam os da Rússia, que jamais é convidada para tentativas de negociação de paz efetiva. Independentemente do resultado da guerra, a Ucrânia não deverá afiliar-se à NATO. E aà ressurge a pergunta fundamental: esta guerra não ocorreu porque a Ucrânia deveria afiliar-se à NATO?
A Cimeira, praticamente um velório, aparentava ser mais uma reunião do Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos do que uma reunião de lÃderes globais. Com o objetivo de assegurar a reeleição do combalido Joe Biden, o conflito da Ucrânia – essencial na polÃtica doméstica norte-americana – os lÃderes optaram por ampliar a pressão e isolamento da Rússia, afastando a possibilidade de paz no curto prazo. E, ainda nesta pauta pró-Biden, os membros do G7 alinharam-se para confrontar, ainda mais, a China, incluindo as impróprias medidas de protecionismo impostas contra os veÃculos elétricos, na grande maioria produzidos por empresas europeias localizadas no gigante asiático.
O G7 torna-se cada vez mais irrelevante ao deixar de coordenar medidas para retomada do crescimento global, para fomentar a continuidade de guerras na Ucrânia e Gaza.