Salvemos o SNS!
A melhoria pela salvação do SNS e a saída do seu estado comatoso deve ser um desígnio nacional para que aquele serviço seja para todos. Há milhões de portugueses que não têm alternativa ao SNS. “O Governo está a cumprir o plano de emergência [para o SNS]”, diz, sem pingo da realidade, o primeiro-ministro. Qual cumprimento? Na ginecologia? Na obstetrícia? As mulheres grávidas não são lorpas. Engrossam os milhares de portugueses sem médico de família, sendo eu um dos que não o têm há 20 anos! Esta gente da governança chora lágrimas de hipócrita carpideira, ao lamentar os índices demográficos negativos pela baixa natalidade, mas os planos para assistir gestantes saíram furados, já que os serviços de urgência de obstetrícia fechados são atentados.
Diz a imprensa que mais de metade do orçamento do SNS é sangrado para os hospitais da mercantilização da saúde. Urge usar estas volumosas verbas para dotar os serviços, neste caso, de obstetrícia, para responder a quem deles precisa. Em política o que parece é: há uma concertação antiga do PS e PSD para esvaziar o SNS e oferecer a sua nata aos hospitais privados do negócio. Está em marcha um SNS para indigentes! A saúde jamais deve ser alvo de negócio. Os hospitais privados respondem aos accionistas, o SNS responde aos doentes. Ponto!
Vítor Colaço Santos, São João das Lampas
Inaugurações
Oportuna foi a inauguração da maternidade no Hospital de Santa Maria. A mesma obra a que o PS tinha dado início. E eram tantos. Era o primeiro-ministro, que trouxe consigo a ministra da tutela e também o ministro das Finanças. Mal se via e não prestou declarações, mas estava lá também o novo CEO do SNS. Um pouco em plano mais recuado, por vezes mesmo escondido, caminhava o Presidente da República, que tinha sido convidado. Não parecia muito feliz. Feliz ficou ele quando um jornalista o informou que um ciclista português tinha acabado de ganhar uma medalha de prata. Aí, sim, o nosso Presidente empolgou-se.
Na maternidade agora inaugurada faltava o equipamento, coisa sem importância. Compra-se e coloca-se no sítio. O que não se pode comprar são os médicos que, talvez por não haver de sobra, na versão de uma médica da MAC, já andam a ser aliciados para mudar de poiso, deixando assim desfalcado o quadro daquela maternidade. Quando a manta é curta… É como quem diz: “Tira-se dum bolso e põe-se no outro.”
José Rebelo, Caparica
“Ai, mourir por toi”
Quando D. Miguel de Unamuno, o inesquecível e corajoso reitor da universidade de Salamanca, disse e escreveu que Portugal era um país de suicidas, certamente não teve em conta aqueles e aquelas que morriam de amor pelos outros, pelas causas ou a pátria. Quem não se esqueceu dessas criaturas com a alma a transbordar de convictos sentimentos e afectos foi o cantor Charles Aznavour que nos deixou um vastíssimo legado donde emerge a celebre “Ai, Mourir pour toi” que a minha geração cantou até à exaustão.
Não há muitos anos houve gente, muita gente, que morreu supostamente feliz durante um confortável banho quente, não sei se a cantar, mas cujos vapores os adormeciam num sono sem retorno. Agora, recentemente, do mesmo lugar onde há dois mil anos um homem magricelas, cabelos hirsutos e barbicha descuidada correndo riscos se atreveu a dizer que éramos todos iguais, chegam notícias preocupantes que há quem recomende e recupere do passado a morte por falta de pão!
Para além de tudo que nos entristece e tira o sono, o que é insuportável é o silêncio cobarde da civilização.
José Manuel Pavão, Porto
Alegria
Pedro Adão e Silva, ex-ministro da Cultura, considera que a entrada em cena de Tim Walz na campanha presidencial norte-americana fez multiplicar a alegria. Somando a isso o eterno sorriso de Kamala Harris, a campanha democrata dá ideia que vivemos num mundo onde impera a paz e a prosperidade, e a sociedade norte-americana é a mais feliz do universo. Maa não é a alegria que vai trazer a paz nas guerras da Ucrânia-Rússia e de Israel-Hamas. Não é a alegria que vai fazer reviver as mais de 14.000 crianças mortas em Gaza com armamento norte-americano. Enquanto a campanha alegre democrata continua, os palestinianos são massacrados. “Sei agora como nasceu a alegria/quando a juventude não é uma lágrima…”, escreveu Eugénio de Andrade.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim