Uma nação perigosa
Depois de Roosevelt, Truman, Kennedy, Ford e Reagan, o candidato à presidência dos EUA Donald Trump foi mais um alvo de um atentado. Num país que nasceu com o genocídio de milhões de índios, a violência e o uso de armas traduz-se na imposição ao mundo da sua ideologia de poder e domínio, assegurada por 750 bases militares instaladas em mais de 80 países.
Os apoiantes de Trump estão acantonados em posições impermeáveis à mais elementar evidência de que o seu ídolo é uma vergonha a todos os níveis; entre estes, proliferam grupos armados e organizados, preparados para lutar contra o Estado federal, como os batalhões do Light Foot Militia, que organizam sessões de treino militar para os seus esquadrões de combate. Entre esta gente que cultiva a violência individual e organizada, qualquer dissidente tem acesso fácil a uma panóplia de armamento como a espingarda semiautomática do tipo AR-15, que se pode comprar nova a partir de 300 dólares (…).
É esta cultura de violência que capturou líderes frouxos que, de forma servil, seguem na Europa a cartilha belicista americana, incapazes de defenderem valores e princípios, titubeantes perante o genocídio de Gaza, mas agora indignados perante um atentado. Quando conseguiremos recuperar alguma lucidez?
José Cavalheiro, Matosinhos
A NATO arrisca(-nos) muito
Somos todos frequentemente lembrados do teor do artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, ao contrário do que nos acontece quanto ao artigo seguinte, o 6.º. É bom parar para pensar, e a leitura do trabalho de José Pedro Teixeira Fernandes, publicado na edição do PÚBLICO do passado domingo, convida-nos a um salutar exercício de reflexão. A NATO, organização defensiva por definição, “faz” a guerra sem que algum dos seus membros a declare constitucionalmente. Como cidadão de um país integrante daquela Aliança, interrogo-me acerca da racionalidade/legalidade destas actuações que, obviamente, põem em perigo todos os membros. Fazer a guerra a esmo, só porque, estrategicamente, isso convém aos EUA, que entendem que o “inimigo principal” é a Rússia, não me parece prudente, já não falando do paulatino e supremo menosprezo que se confere ao potencial bélico do oponente, que não é despiciendo. Putin será (e é…) um patife declarado que merece punição, e não só por ter invadido a Ucrânia. É razão suficiente para nos arvorarmos, sobretudo os europeus, em justiceiros globais, arriscando a nossa sobrevivência só porque a correlação de forças no mundo se alterou e os actuais (ainda) “patrões” pretendem manter o usufruto dos benefícios de que gozam? (…)
José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia
Radicalismos e extremismos
Vítor Serrão, meu ex-colega de faculdade, argumenta no PÚBLICO do último domingo contra a existência, em Portugal, de uma esquerda radical, defendendo o PCP de tal “acusação”. Venho apenas lembrar a história e a necessidade da memória: o 1975 português e, em geral, o que foi a Europa de Leste entre o final da II Guerra e a queda do muro de Berlim. Não opino sobre o adjectivo “radical” aplicado a esse período; agora que se tratou de ditaduras ferozes, sem liberdade, com presos políticos e partidos únicos, isso são factos. Partidos comunistas no poder…
Mas, sobretudo, chamo a atenção para o que se passa em certos países da América do Sul, nomeadamente na Nicarágua, onde Daniel Ortega e Rosario Murillo acabam de fechar mais uma estação de rádio católica, a Radio Maria, a operar há mais de 40 anos, tendo sido suspensas também várias igrejas evangélicas. Isto depois do encerramento e confisco de bens de várias instituições católicas e do exílio forçado de padres e bispos; a lista de perseguições é longa. Ali vive-se em ditadura. Qual o adjectivo adequado a esta esquerda?
Teresa Seruya, Lisboa
Silêncio dos inocentes
Foi completamente surreal a videoconferência do filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria. Parecia o homem estátua, sem mais nada a acrescentar, sem tugir nem mugir, numa espécie de “Silêncio dos inocentes”. Quem quebrou o silêncio e se declarou inocente de deitar abaixo um governo foi Lucília Gago, procuradora-geral da República. Não tem culpa de ter lançado a suspeição sobre António Costa naquele parágrafo no âmbito da Operação Influencer, sem que alguém tenha conseguido associar o antigo primeiro-ministro a qualquer prática criminosa. Não é responsável pelo Ministério Público se comportar quase como um órgão de soberania, da ministra da Justiça a ter aconselhado a limpar a imagem do Ministério Público, acusando-a de “falta de liderança e comunicação”, e é inculpável de “um poder sem controlo” por parte dos seus magistrados.
Emanuel Caetano, Ermesinde