Até 25 de Abril de 2024, a BLITZ publica uma lista de 50 canções que abriram caminho à liberdade conquistada há 50 anos. São canções que, durante o Estado Novo, prenunciaram a mudança ocorrida a 25 de Abril de 1974, e deram forma a uma revolução cultural que em muito antecedeu a revolução política que pôs termo à ditadura. Os textos são da autoria de Luís Freitas Branco, autor de “A Revolução Antes da Revolução” (Zigurate, 2024), a publicar este mês, livro que documenta o modo como a música popular portuguesa abriu as portas para o clima cultural, social e político que desencadeou o 25 de Abril de 1974. Todos os dias, esta lista ‘receberá’ uma nova canção.
49. ‘Hino da Mulher Moçambicana’, de Salomão Manhiça (1973)
O cosmopolitismo de Lourenço Marques era ilusório. O retrato dos clubes noturnos, o entretenimento e o rock and roll, as emissões da Rádio Clube Moçambique, e até, as gravações esporádicas de marrabenta, escondiam a realidade de um país em guerra, intensamente vigiado. Ao mesmo tempo, nas zonas libertadas, entoavam-se hinos revolucionários, canções de alento à luta armada e de doutrina política, emitidas por “A Voz da FRELIMO”; entre essas canções, editadas após a independência, “Hino da Mulher Moçambicana” é um caso particular: as vozes, em coro, celebram a vida da revolucionária Josina Machel, mulher de Samora Machel, que morreu precocemente em 1972. A canção é de Salomão Manhiça, uma história que foi revelada recentemente no livro “A Construção Sonora de Moçambique”, de Marco Roque de Freitas, que será lançado a 5 de Maio, no Festival FeLiCidade, no CCB, em Lisboa. Mais uma prova de que, na frente de batalha, a cantiga também foi uma arma.