A tomada de posse de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, em 2019, em que fez um primeiro governo de transição, nomeando para a pasta da energia apenas homens, dando como justificação aos media que só estes tinham essa competência e que a energia era um assunto masculino, fez com que surgisse uma lista a elencar mulheres com currículo que poderiam ocupar altos cargos nesse setor.
Foram selecionadas 163 mulheres e Alice Khouri estava na lista. Este momento foi uma espécie de botão vermelho para a especialista em energia. Alice Khouri conta que comentou com a mãe estas disparidades, ao que esta lhe respondeu: “Uma mulher que nunca foi discriminada é só uma mulher distraída”.
A fundadora do Women in ESG Portugal, uma comunidade que reúne mulheres com algum contexto ligado ao ESG (sigla inglesa para Environmental, Social and Governance) e que passam a fazer parte de uma lista onde partilham experiências, documentos e discutem caminhos para integrar a perspetiva de género no dia a dia das empresas e das instituições, diz estar orgulhosa por terem já 580 mulheres inscritas. Este movimento procura dar-lhes igualdade de oportunidades e de remuneração, em especial nas áreas de sustentabilidade e ESG. “A hora de mudar é agora”, acredita.
O desafio do ESG, na sua opinião, é vir acompanhado de uma avalanche regulatória. Este era um tema que não estava regulado e de repente tem efeitos sérios na reputação das empresas. “Por isso, é tão complexo e como o direito é posterior à realidade, está sempre atrasado. É como um relógio estragado!”
O CEO é o limite
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Quanto ao facto de o tecido empresarial português ser constituído maioritariamente por PME (pequenas e médias empresas) que terão também, embora mais tarde, de seguir as regras regulatórias, para Alice Khouri só têm uma saída: “pedir ajuda às grandes empresas e estas, por sua vez, têm de dar a mão às mais pequenas se quiserem continuar a ter números satisfatórios e fornecedores”. Acredita também que este tema terá de passar por uma intervenção estatal mais profunda.
Alice Khouri falou ainda da transição energética e do problema em não se reduzir a emissão de metano. Se não for reduzido não será possível travar o aquecimento climático. E termina afirmando que um profissional de ESG antes da Corporate Sustainability Reporting Directive “era alguém que falava de sustentabilidade nas três dimensões, mas na verdade estava a segurar o prato”, mas depois da avalanche regulatória é a pessoa responsável para levar para a estratégia empresarial “tudo o que se espera de sustentabilidade”. “Atender o impacto, medir, acompanhar e relatar, ou seja, é uma pessoa importante”, nota.
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