Nenhum dos três fármacos comercializados em Portugal é comparticipado pelo Estado e, no entanto, cada vez mais eles estão a ser prescritos pelos médicos e comprados pelos doentes – mesmo que muitas vezes o seu valor ultrapasse a centena de euros.
O jornal Público noticia que, no ano passado, as farmácias registaram 9,2 milhões de euros gastos nas três substâncias com esta indicação terapêutica no país. Foi quase o dobro do ano anterior (5,9 milhões de euros).
O caso mais paradigmático é o do medicamento mais tomado, p liraglutido (de nome comercial Saxenda), cuja caixa para um mês custa, em média, 245 euros e, ainda assim, está a ter uma subida abrupta nas vendas. Entre 2021 e o ano passado, mais do que triplicou o valor gasto nas farmácias para este medicamento.
Também a segunda substância mais comprada pelos portugueses, uma combinação de bupropiom com naltrexona (de nome comercial Mysimba), sofreu um ligeiro aumento de consumo no ano passado.
Obesidade é doença há 20 anos
Os especialistas têm pedido a comparticipação destes fármacos para o tratamento da obesidade, algo que estas subidas de vendas vem reforçar. Com a obesidade a ser considerada uma doença há duas décadas, os clínicos e os doentes têm apelado aos governos que considerem dar o passo, especialmente pensando nos doentes com menos possibilidades económicas.
Em março, por altura do Dia Mundial da Obesidade, a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) alertaram também para a “premência de colocar a obesidade e o seu tratamento no centro da agenda das políticas de saúde em Portugal”, tendo como proposta o reforço das consultas de especialidade no SNS.
“A obesidade é uma doença e, tal como as outras doenças, precisa de tratamento e os tratamentos existem, mas existe uma inacessibilidade das pessoas para comprar os fármacos e para se tratar, portanto, o que nós apelamos numa primeira fase é que haja vontade política para que os fármacos sejam comparticipados”, defendeu à agência Lusa a presidente da SPEDM, Paula Freitas.