Para desconstruir o preconceito associado à idade e a discriminação de que os mais velhos são muitas vezes alvo, um novo projeto de combate ao idadismo está a começar a ser implementado em cinco ilhas dos Açores, numa iniciativa que reúne a Casa do Povo de Santa Bárbara da Ilha Terceira, o governo regional e a associação Stop Idadismo.
Com duração prevista de 16 meses, o “Envelhe(Ser) 100 Preconceito” tenciona “incentivar uma mudança de comportamento em relação à idade e ao envelhecimento, valorizando todas as idades, e também potenciando as relações intergeracionais”, diz ao Expresso o presidente da Stop Idadismo, José Carreira. “Procura também sensibilizar para a inclusão e o respeito de todas as pessoas, de todas as idades”, acrescenta.
A nível global, uma em cada duas pessoas tem atitudes discriminatórias em relação aos mais velhos e, na Europa, uma em cada três diz ter sido vítima de discriminação com base na idade, concluiu um relatório da Organização Mundial da Saúde publicado em 2021. Foi nesse ano que o movimento iberoamericano Stop Idadismo surgiu em Portugal, tendo como primeira parceria a Casa do Povo de Santa Bárbara da Ilha Terceira, onde começaram atividades mensais sobre o tema e que estão na origem do projeto que agora se estende a São Jorge, Pico, Graciosa e Faial.
O trabalho envolve ações educativas e intergeracionais, de sensibilização e formação, desenvolvidas em espaços como escolas, IPSS, Misericórdias e outras organizações da sociedade civil, abrangendo cinco áreas: desconstrução do conceito de idadismo, como desejo ser tratado, sexualidade sem validade, beleza sem regra e ‘serei velho demais para…’.
O contexto escolar é particularmente importante porque “o preconceito em função da idade, o idadismo, começa a ser assumido e adquirido desde tenra idade”, explica José Carreira. Mas o projeto visa as diferentes faixas etárias. “É uma campanha para todos os públicos, de todas as idades, porque é um assunto que diz respeito a todos nós. Podemos ser vítimas de idadismo em várias fases da vida. É uma mensagem que queremos que chegue a todas as pessoas”, afirma o também responsável das Obras Sociais de Viseu. Além disso, é uma questão que “ainda é bastante invisível e à qual ainda não é dada a importância que deveria ser dada”.
“Todo o trabalho que é feito no âmbito da longevidade deve ter como primeiro pilar o combate ao idadismo. Porque enquanto este preconceito não for combatido ou pelo menos mitigado, muito mais difícil será desenvolver todas as outras ações”, defende. “Se se tiver um olhar negativo para as pessoas mais velhas, para o envelhecimento, olhando sempre como doença, dependência, estamos muito mais perto da perda de direitos, inclusivamente até de isolamento, solidão e, no limite, de maus tratos a estas pessoas.”
No caso dos Açores, a “vontade das organizações” locais foi determinante para avançar nesta matéria, assim como a “vontade política”. O governo regional tem a “preocupação de dar as melhores condições possíveis às pessoas que estão a envelhecer” e “passou das palavras aos atos”, salienta José Carreira, desejando que o Governo nacional “siga este exemplo”.
O “Envelhe(Ser) 100 Preconceito” poderá servir como uma espécie de projeto-piloto e, no futuro, chegar a outras regiões do país. “O trabalho que está a ser feito pode ser replicado, com dimensões diferentes. Temos esperança que, com o novo Governo, haja um novo impulso, dado já pelo anterior, com a criação do Centro de Competências de Envelhecimento Ativo, que foi uma boa estratégia”, conclui.