O Yeniden Refah (Novo partido da prosperidade) está a ser apontado como uma das causas da derrota do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2003, ao atrair votantes religiosos dececionados com Erdogan por manter relações comerciais com Israel, apesar do seu discurso crítico face ao conflito na Faixa de Gaza.
Fundado em 2018, esta formação proveniente do Islão político reivindica a herança de Necmettin Erbakan, o influente dirigente e mentor do jovem Erdogan, que no final da década de 1960 anunciou o movimento islamista Milli Gorus (Visão nacional), inspirador de numerosos partidos e associações na Turquia e entre a diáspora turca na França e Alemanha, assinala a agência noticiosa AFP.
Recep Tayyip Erdogan, então com 21 anos, protagonizou os seus primeiros passos na política neste partido, e foi com a ajuda do seu mentor Necmettin Erbakan que conquistou em 1994 o município de Istambul como candidato pelo partido Refah.
Erbakan chegará ao cargo de primeiro-ministro à frente de uma coligação entre junho de 1996 e junho de 1997, quando é deposto pela então poderosa hierarquia militar e o poder judicial no que foi definido como um “golpe de Estado pós-moderno” também por não ter implicado derramamento de sangue, ao contrário dos três anteriores golpes militares em 1960, 1971 e 1980.
As relações com o seu “pai espiritual” degradam-se quando Erdogan e companheiros tentam destronar Erbakan, e de seguida formam o AKP em 2002, privando-o a sua influência já em queda.
Fatih Erbakan, um dos filhos do “hodja” (“professor”) relança em 2018 o partido de seu pai, que morreu em 2011, sob a designação de Yeniden Refah.
Segundo diversos observadores, e ao contribuir para o revés registado no domingo pelo Presidente Erdogan, o filho de Erbakan vingou o seu pai.
O Yeniden Refah defende uma visão islamo-conservadora do mundo mais rígida que o AKP, que privilegia a “moral e os valores espirituais”.
“Vamos encerrar as associações LGBT quando estivermos no poder. É uma heresia proibida em todas as religiões”, afirmou o seu chefe.
O partido opõe-se ao feminismo e defendeu em 2021 a retirada da Turquia da Convenção de Istambul, destinada a combater as violências contra as mulheres.
Ao opor-se às taxas de juro, que considera uma taxa de usura contrária ao islão, o partido destacou-se nos últimos meses na denúncia das relações comerciais entre a Turquia e Israel apesar da guerra na Faixa de Gaza.
“Se o Governo terminar com o comércio com Israel, encerrar a estação radar de Malatya [instalada em 2012 pela NATO, aliança militar à qual pertence a Turquia] que protege Israel, e duplicar as reformas para 20.000 libras turcas (580 euros), estamos prontos a retirar a nossa candidatura em Istambul”, preveniu Erbakan nas vésperas do escrutínio.
Segundo os analistas, o Yeniden Refah obteve numerosos votos aos colocar a guerra em Gaza e a inflação – 67,1% no último ano – no centro da sua campanha.
O Yeniden Refah, que apoiou o Presidente Erdogan nas eleições presidenciais de maio de 2023, conquistou no domingo duas províncias, Sanliurfa (sudeste) e Yozgat (centro), que eram dirigidas por munícipes do AKP.
Com 6,2% a nível nacional, ultrapassou o parceiro de coligação do Presidente Erdogan, o ultra-direitista Partido de Ação Nacionalista (MHP), que obteve 5% dos votos nacionais.
“É necessário não confiar naqueles que tentam fazer que percamos, mesmo que tenham estado ao nosso lado durante algum tempo”, tinha alertado Erdogan.