Com o desenvolvimento de critérios internacionais para os problemas relacionados com videojogos foi possível melhorar a qualidade dos estudos na matéria. Sem desvalorizar esta perturbação que tanto preocupa as famílias, a investigação nos últimos 10 anos não veio a comprovar o esperado aumento da prevalência à medida que as gerações pertencentes à “Era digital” fossem envelhecendo, considerando-se que para isso terá contribuído fatores como erros no desenho de estudos mais antigos, mas também o desenvolvimento de outras atividades mais atrativas no mau sentido.
Sabe-se hoje que o uso de videojogos é um fenómeno generalizado (início da vida adulta 90% das pessoas jogam pelo menos alguns minutos semanalmente indo essa percentagem reduzindo com o envelhecimento) e que serão as pessoas suscetíveis que acabam por desenvolver problemas: género masculino, personalidades introvertidas ou ansiosas, perturbações ligadas à socialização (ex. fobia social), tendência a usar atividades online para modular o humor. O quadro mantém-se tipicamente pelo menos dois anos e durante esse período a pessoa tem dificuldade em motivar-se para obrigações académicas, laborais ou de lazer, alternativas em idades críticas em que as pessoas estão a definir o seu lugar no mundo.
Estando apenas bem definidas a perturbação de jogo a dinheiro e uso problemático de videojogos, são cada vez mais comuns outros problemas ainda por definir de forma precisa como dificuldades em gerir o tempo em redes sociais (o algoritmo estuda os nossos gostos para nos expor a publicidade e o envolvimento durante o máximo de tempo na atividade), aplicações financeiras, visualização de pornografia e compras indesejadas. Nestes tipos de problemas o uso de dispositivos pessoais oferece acesso hiperfacilitado a “velhas e novas atividades” que representam uma verdadeira ameaça à saúde mental a quem tem dificuldade em controlar impulsos por imaturidade, feitio ou estado temporário de fragilidade.
Relativamente às redes sociais há estudos que alertam para o impacto negativo na saúde mental, considerando que são um fator importante no aumento da depressão e taxas de suicídios em adolescentes muito jovens (pela exposição sem maturidade a abuso psicológico e a vidas e aparências idílicas de plástico).
Parece-me urgente que seja definida regulamentação em relação a estas atividades que estão entregues a determinantes económicos, com mecanismos que obriguem à reflexão, limitem o tempo de utilização ou criem latência no acesso.