Esta semana marcou o fim do Ramadão, dando início à celebração do Eid al-Fitr.
Para quem desconhece o calendário de festividades da comunidade muçulmana, este é um dos feriados mais importantes do Islão. E seria, em tempos normais, um momento de alegria e de prática de caridade para aliviar situações de pobreza e grande vulnerabilidade.
Mas, hoje, milhões de muçulmanos celebram em todo o mundo, num contexto de tensão absoluta e desesperança, com a sensação de que o mundo está à beira da rutura total. Seis meses após os ataques do Hamas de 7 de outubro, os palestinianos em Gaza assinalam o fim do Ramadão entre mesquitas arruinadas, condenados a uma tragédia coletiva sem fim à vista, com mais de 34.000 mortos até à data.
E quanto mais se arrasta a situação de genocídio em Gaza, mais o Médio Oriente caminha para o abismo. As tensões locais nos países vizinhos estão ao rubro, com assassinatos a exacerbar as tensões entre potências regionais.
Biden está cada vez mais frustrado com a surdez coletiva do governo de Netanyahu, que põe a sua própria sobrevivência política em primeiro plano e se recusa a um cessar-fogo. O presidente norte-americano arrisca-se a perder, nas eleições de novembro, o voto de uma parte do eleitorado que condena o apoio dos EUA à guerra, aumentando as hipóteses da reeleição de Trump, um acontecimento que seria catastrófico na atual conjuntura internacional.
Além disso, as populações dos países árabes têm irrompido em protestos, sendo a polarização nas redes sociais e nos média cada vez maior, face ao arrastar do conflito. Governos árabes de maioria muçulmana têm estado sob pressão por parte das suas populações para conferir um maior apoio à causa palestiniana. Muitos governos são acusados de passividade e falta de solidariedade.
Para onde caminham os árabes que assistem, impotentes, ao sofrimento do povo palestiniano? No passado, nada de bom alguma vez veio de tanta frustração e raiva acumuladas, e que são terreno fértil para a radicalização e recrutamento por organizações fundamentalistas.
Uma operação militar israelita em Rafah será certamente o ponto de rutura sem retorno, com o Irão a preparar-se para a escalada regional. Caminhamos de violência em violência, o sofrimento agrava-se e, neste momento, já restam poucas dúvidas de que os próximos anos serão marcados por guerra aberta em várias frentes, com o próprio projeto da União Europeia sob ameaça pela loucura de Putin.
O desafio tremendo que enfrentamos é o de encontrar soluções que voltem a dar esperança e um futuro a todos os que nasceram para testemunhar esta época sombria.