“Durante estes 50 anos mudaram os Governos e os partidos, apareceram novos partidos, desapareceram partidos mudaram as opiniões, mudaram as ideias, os movimentos, mas há uma coisa que ficou adquirida para sempre: não queremos voltar a uma ditadura”.
O Presidente da República disse hoje, perante centenas de jovens, que o 25 de Abril “deixou muita coisa por fazer”, na educação e na saúde “por exemplo”, pelo que se vive “uma corrida contra o tempo”.
“O 25 de Abril deixou pelo meio muita coisa por fazer. Umas fez e outras não fez. E as que fez desatualizaram-se rapidamente. Por exemplo, o ensino. Houve uma abertura em quantidade no ensino. Mas a qualidade acompanhou? Não. A escolaridade demorou muito tempo a ser alargada. Na saúde, o SNS [Serviço Nacional de Saúde] arrancou muito bem, mas depois foi-se alargando alargando e alargando e começou a ter problemas de década para década”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, e na primeira de três conversas sobre a Revolução dos Cravos com jovens que anunciou que terá “em breve”, Marcelo Rebelo de Sousa disse na Escola Rodrigues de Freitas, no Porto, que se vive “uma corrida contra o tempo” dada “a sensação de que o que se faz não é suficiente comparado com aquilo que se devia fazer”.
“Falando de desigualdades no território… O país antes do 25 de Abril era muito muito pobre. A pobreza foi-se recuperando rapidamente em alguns centros, nas cidades, nas metrópoles, mas menos no campo, zonas da fronteira e alguns territórios no meio do continente. Além das desigualdades que havia, juntaram-se novas desigualdades”, lamentou.
Com o novo ministro da Educação na audiência, no primeiro ato público de Fernando Alexandre como governante, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “o país avançou muito no digital”, mas “não chegou a toda a gente”.
“Qual é a consolação que temos? É que houve uma coisa que nunca se perdeu: a Liberdade! Durante estes 50 anos mudaram os Governos e os partidos, apareceram novos partidos, desapareceram partidos mudaram as opiniões, mudaram as ideias, os movimentos, mas há uma coisa que ficou adquirida para sempre: não queremos voltar a uma ditadura. Não queremos um partido sozinho a governar o país”, apontou.
Defendendo que os países com maior qualidade ambiental bem como os mais avançados técnica e cientificamente, vivem em democracia, Marcelo Rebelo de Sousa disse que “a grande riqueza atual é continuarmos a lutar pela liberdade, pelo pluralismo e pela mudança”.
O Presidente da República – que tinha previsto falar 15 minutos e responder “a meia dúzia de perguntas” para “mais talvez uma hora” e acabou por falar mais de duas horas e só interrompeu o ciclo de questões quando alguns alunos pediram para ir almoçar – aproveitou para deixar uma mensagem aos jovens.
“Quem vai ser decisivo no futuro do 25 de Abril são os mais jovens. Foram jovens capitães a fazer o 25 de Abril, agora têm de ser os jovens a refazer as vezes que forem precisas o 25 de Abril”, sublinhou.
Confrontado pelos alunos – que no pavilhão o receberam como bandeirinhas de vários países e ao som de “Uma gaivota voava voava” de Zeca Afonso e foram os únicos que, esta manhã, tiveram oportunidade de fazer perguntas aos Chefe de Estado – Marcelo Rebelo de Sousa abordou outros temas como a guerra na Europa ou o papel das eleições dos Estados Unidos no equilíbrio mundial futuro.
“As eleições americanas vão ser decisivas e vão ter repercussões na Europa (…). Faz diferença à Europa contar com os EUA ou não contar. Se não contar, coloca-se à Europa um desafio (…). Mais investimento na segurança ou que significa menos investimento em outros sítios”, disse.
Convidado a contar como é que viveu o 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa que trabalhava, em 1974, como jornalista do jornal Expresso, contou que sabia, através de amigos, que estava iminente um movimento militar e que esse ia ser feito por capitães.
Já a data exata, percebeu-a no próprio dia quando na madrugada de 25 de Abril se cruzou, a caminho de casa para tomar um duche depois de ter ido ao Restelo ver um jogo de futebol, com a coluna limitar que ia tomar o controlo do Rádio Clube Português.
“Telefonei a pessoas chave como Francisco Sá Carneiro e outras (…). No Expresso criou-se uma espécie de central com antenas nos vários pontos de operação. Passei uma parte do dia no Expresso e nos intervalos possíveis sai para a rua”, descreveu.
Depois do Porto, seguir-se-ão conversas semelhantes em Lisboa e em Santarém, terra de Salgueiro Maia.
Antes do debate, Marcelo Rebelo de Sousa teve oportunidade, acompanhado do diretor da escola, Henrique Almeida, de ver os registos de matrículas e certidões de frequência do fundador do PSD e antigo primeiro-ministro, Sá Carneiro, bem como um projeto de impressora 3D que um grupo de alunos está a desenvolver e que visa imprimir monumentos em formato tridimensional para pessoas sem visão.
À passagem para o pavilhão, Marcelo Rebelo de Sousa foi acenando às crianças que estavam em aula e o recebiam surpreendidos com um “olha o Presidente!”.