Um relatório do Governo norte-americano, que tinha sido alegadamente atrasado pela Casa Branca, foi divulgado esta sexta-feira, revelando que Israel poderá ter violado a lei humanitária na Faixa de Gaza, através do uso de armas enviadas pelos Estados Unidos.
O relatório indica que é “razoável concluir” que armas fornecidas pela administração Biden às forças armadas israelitas foram usadas de maneira “inconsistente” com as obrigações de Israel.
O documento, citado por vários órgãos de comunicação norte-americanos, fala em várias suspeitas de violações da lei humanitária na forma como as forças israelitas têm conduzido a sua ofensiva na Faixa de Gaza, com pouco respeito pela segurança e vida de civis palestinianos, obrigando milhões a deslocarem-se de abrigo em abrigo e dizimando uma grande maioria dos edifícios habitacionais na região, além de limitar a entrada de ajuda humanitária, água e comida à população.
Contudo, apesar de o relatório ordenado pela Casa Branca ser claro em alertar que Israel tem em mãos um “desafio militar extraordinário” contra o Hamas e de criticar duramente as operações no enclave palestiniano, a avaliação não acusa diretamente as Forças Defensivas de Israel (IDF) de quebrar a lei internacional.
Além disso, o documento contém também uma pequena vitória para Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, que trocou críticas entre Washington D.C. pela suspensão de uma entrega de armas de alto calibre. Os EUA justificaram a suspensão com o avanço da invasão israelita em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. O relatório diz que foram dadas garantias “credíveis e confiáveis” de que Israel iria respeitar as suas obrigações legais ao usar armas norte-americanas contra a região palestiniana.
A divulgação das informações surge depois de um atraso de três dias, tendo sido necessários vários meses para recolher todos os dados.
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Os autores admitem também que o Governo norte-americano não tem “as informações completas” sobre a situação militar no terreno, acusando o Hamas de “usar infraestruturas civis para fins militares e civis como escudos humanos”, sendo “difícil determinar factos no terreno numa frente de guerra ativa”.
“Israel tem conhecimento, experiência e as ferramentas para implementar melhores práticas para mitigar o risco para os civis nas suas operações militares”, conclui o relatório, apontando que os “resultados no terreno, incluindo níveis elevados de mortes civis, levantam questões substanciais sobre as IDF estão a usar [as armas] de forma eficaz em todas as situações”.
Até esta terça-feira, foram mortas pelos bombardeamentos israelitas 35.402 pessoas, incluindo mais de 14.500 crianças e 8.400 mulheres. Segundo os dados das autoridades de saúde de Gaza, foram registados mais de 78 mil feridos, e ainda existem milhares de mortos e feridos palestinianos por retirar debaixo dos escombros dos edifícios arruinados.
A ofensiva israelita foi despoletada pelos ataques do dia 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, pelo Hamas, com o grupo extremista a matar mais de 1.100 pessoas e a raptar mais de 200. Atualmente, ainda cerca de 130 reféns continuam retidos na Faixa de Gaza.
Entretanto, na Cisjordânia ocupada, as operações israelitas na região, que se intensificaram em resposta ao ataque do Hamas, já resultaram em quase 500 palestinianos mortos pelas forças de segurança, incluindo mais de 120 crianças.