Duas escolas no estado conservador da Virgínia, localizado na costa ocidental norte-americana, vão alterar os seus nomes de novo. Depois de mudarem a designação dos estabelecimentos devido à onda de protestos contra símbolos da Confederação, as escolas públicas vão voltar a ter nomes de generais que participaram no lado da Guerra Civil americana que defendeu a escravatura,
A decisão foi tomada esta sexta-feira de manhã, durante uma assembleia do distrito escolar do condado de Shenandoah, com uma votação de 5-1, segundo avançou a Associated Press. A medida é uma revogação direta da decisão de 2020, quando os nomes das escolas foram alterados após a morte de George Floyd, em maio desse ano.
Agora, a escola secundária Mountain View High vai voltar a ser Stonewall Jackson High, em homenagem a um dos militares mais reputados do lado esclavagista. Já a escola básica Honey Run Elementary passa a designar-se Ashby-Lee Elementary School, que refere o general Robert E. Lee, líder dos exércitos dos estados sulistas.
Numa assembleia na quinta-feira em que a comunidade pôde expor as suas preocupações ao condado, cerca de 80 pessoas prestaram declarações e, segundo a NBC News, mais de 50 opuseram-se a recuperar o legado esclavagista da Confederação para as escolas públicas da região.
“Eu sou um estudante negro e, se os nomes forem restaurados, vou ter de representar um homem que lutou para que os meus antepassados fossem escravos. Acho que é injusto que restaurar os nomes seja sequer uma discussão”, afirmou um dos estudantes presentes.
No condado de Shenandoah, um grupo conservador chamado Coalition for Better Schools apelou às autoridades escolares para repor os nomes dos generais sulistas. Numa carta divulgada a 3 de abril, e citada pela NBC News, escrevia que acreditava “que rever esta decisão é essencial para honrar a herança da nossa comunidade e respeitar os desejos da maioria”.
Em 2020, quando o nome das escolas foi alterado, a decisão da direção, que mudou entretanto, tinha como objetivo “condenar o racismo e afirmar o compromisso da divisão em ter uma ambiente escolar inclusivo para todos”.
O homicídio de George Floyd às mãos da polícia de Minneapolis, há quatro anos, provocou grandes manifestações contra a violência policial e o racismo estrutural, inspirando protestos semelhantes por todo o mundo. Entre várias outras reivindicações, as ações nos Estados Unidos também geraram uma maior luta contra símbolos da escravatura, especialmente em estados no sul do país, que continua com dificuldades em lidar com um passado esclavagista e de opressão contra a comunidade afro-americana.
Ao longo dos últimos anos, foram sendo retiradas de várias cidades norte-americanas várias estátuas, bandeiras e monumentos, que honram nomes da Confederação – a união de estados sulistas que se uniu para combater o Norte e defender a prática da escravatura, entre 1861 e 1865. Mas as autoridades políticas destas regiões, onde a maioria da população é conservadora e fiel ao Partido Republicano, tem combatido estas iniciativas, orgulhando-se do passado militar do sul.
No estado da Virgínia, só em 2020 e após a morte de Floyd, foram retirados pelo menos 160 símbolos da Confederação de instituições públicas, segundo os dados do Southern Poverty Law Center, uma organização não-governamental de advocacia e direitos civis, que detém dados sobre cerca de 2000 monumentos sulistas. O último símbolo da cidade de Richmond, a capital do estado e a antiga capital da Confederação, durante a Guerra Civil, só foi removido em dezembro de 2022.
À Associated Press, Rivka Maizlish, analista no Intelligence Project do Southern Poverty Law Center, apontou que a mudança de nomes nas escolas na Virgínia é talvez o primeiro caso registado desde 2020.
Maizlish nota ainda que, em 2023, o Exército renomeou sete instalações militares, que ainda mantinham o nome de líderes da Confederação, bem como um cemitério militar.
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O voto em Shenandoah não é um caso único. Vários grupos conservadores estão a fazer lóbi para recuperar símbolos racistas que foram sendo removidos de locais públicos, manuais escolares e instituições culturais. Em muitos estados, como a Flórida ou o Oklahoma, foram aprovadas leis que limitam livros que abordem a Guerra Civil como um conflito em torno da questão da escravatura.
A Virgínia tem um passado recente atribulado no que diz respeito à defesa de símbolos da Confederação. Em 2017, centenas de militantes neonazis e defensores da supremacia branca marcharam pela cidade de Charlottesville, no mesmo estado, em protesto contra a remoção da estátua de Robert E. Lee de um parque. Na altura, a manifestação – que incluiu tochas, cânticos extremistas, insultos racistas e ameaças de morte a minorias étnicas – fez soar os alertas para o aumento de milícias armadas de extrema-direita nos EUA, e a falta de vontade de Donald Trump, então Presidente, em condenar o protesto foi outro fator que contribuiu para esse aumento até agora.