“Os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: tempo e paciência.” Em “Guerra e Paz”, o autor russo Lev Tolstói escrevia, há mais de 100 anos, uma das premissas que têm estado na base da “guerra eterna” de Putin: a capacidade de esperar e perseverar ao longo do tempo é uma das formas mais poderosas de força. Se o que o Presidente da Rússia procura é uma guerra vencida pelo desgaste, um Ministério da Defesa que aposte em ações impulsivas ou que privilegie a força bruta não é a melhor aposta.
No domingo, Vladimir Putin revelou que chegou a essa mesma conclusão, ao substituir o seu companheiro de campismo e pesca, Sergei Shoigu, por Andrei Belousov, um economista (da sociedade civil) e ex-primeiro vice-primeiro-ministro, à frente do Ministério da Defesa russa. Belousov é conhecido na Rússia como um tecnocrata competente.
Alexandra Prokopenko, antiga conselheira do Banco Central da Rússia, forneceu, na rede social “X”, uma pista para a alteração. “A prioridade de Putin é a guerra; a guerra de atrito é vencida pela economia. Belousov é a favor de estimular o orçamento, o que significa que os gastos militares pelo menos não diminuirão, aumentarão.” É o mesmo que dizer que o conflito será cada vez mais uma confrontação entre as capacidades de produção e fornecimento ocidentais e as russas. (A Rússia produz cerca de três vezes mais projécteis de artilharia por ano do que os EUA e a Europa fabricam para a Ucrânia, segundo estimativas das secretas da NATO.)
Konstatin Sonin, economista russo e professor na Universidade de Chicago que conheceu Belousov, diz ao Expresso que esperava que a remodelação do Governo acontecesse, mas foi surpreendido pela nomeação do antigo vice-primeiro-ministro. “A guerra está a correr mal à Rússia. Putin contou com uma vitória rápida e, em vez disso, isolou o seu país, perdeu dezenas de milhares de vidas, num registo pior do que em qualquer conflito desde a II Guerra Mundial, e centenas de milhares de pessoas emigraram – como não acontecia há 100 anos.”