Xi Jinping está em França, com a Ucrânia e as relações bilaterais no topo da agenda comum. Apresentada como uma viagem à Europa, a viagem contempla apenas visitas à Hungria e à Sérvia.
O presidente chinês, Xi Jinping, inicia em França, esta segunda-feira, a primeira visita à Europa desde a pandemia de Covid-19 – mas, para além da sua presença entre os gauleses, o líder do Império do Meio apenas visitará a Hungria e Sérvia, o que leva os analistas a questionarem-se sobre o momento das relações com a União Europeia.
Neste primeiro dia, e segundo a imprensa francesa, decorrerá uma receção na capital e conversações bilaterais no Palácio do Eliseu, além de um encontro que juntará os presidentes e Ursula Von Der Leyen, líder da Comissão Europeia. Os dois líderes assinalam assim os 60 anos das relações diplomáticas entre a França e a China comunista.
As agências noticiosas internacionais preveem que Xi Jinping expresse descontentamento quanto às investigações europeias sobre as práticas comerciais chinesas e reforce a posição quanto à Rússia e à guerra na Ucrânia. O encontro dá-se numa altura em que a França decidiu liderar de algum modo a resistência europeia à invasão da Ucrânia – com o presidente francês a declarar recentemente que pode enviar tropas francesas para o país invadido. As declarações não suscitaram acolhimento favorável nas principais capitais europeias – dado que a França é um país NATO com posse de armamento nuclear.
Para a França, “a China é um dos principais parceiros da Rússia” e, nesse quadro, Emmanuel Macron pretende “encorajá-la a utilizar a influência que tem sobre Moscovo para mudar os cálculos da Rússia e contribuir para a resolução do conflito”, segundo nota divulgada pelo Palácio do Eliseu. Não é a primeira vez que Macron tenta ‘agarrar’ a China para o campo ocidental, mas a imprensa gaulesa enfatiza que Xi Jinping nunca visitou Kiev e não parece ter qualquer intenção de o fazer.
O líder chinês chegou na tarde deste domingo a França, onde deve ficar por dois dias. Recebido no aeroporto de Orly pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, Xi Jinping foi recebido oficialmente na manhã desta segunda-feira no Palácio do Eliseu pelo presidente da República, Emmanuel Macron. Será realizado um jantar de Estado para comemorar os 60 anos de relações entre a França e a República Popular da China. No dia seguinte, Macron e Xi Jinping partirão para os Pirenéus.
As relações económicas entre os dois países também estarão na agenda, numa altura em que a União Europeia mostra resistência em aceitar o aumento das trocas comerciais entre as duas geografias. Com alguns analistas a acusarem a Comissão de subserviência face às opções estratégicas dos Estados Unidos em relação à China, o mais provável é que essas resistências se mantenham.
Neste momento, a União Europeia tem em cima da mesa medidas cada vez mais restritivas à entrada de produção chinesa que não cumpra requisitos de sustentabilidade, de proteção climática e de boas práticas sociais – na tentativa de impedir que essa produção seja concorrencialmente negativa para a própria produção europeia. Têxteis, calçado e tecnologias de informação são alguns dos sectores mais em foco. Mas o principal deles é mesmo o sector automóvel. A China tem tentado ‘inundar’ o mercado europeu dos automóveis elétricos com a sua produção low cost – o que já mereceu críticas cerradas da parte dos produtores da Europa, que não conseguem acompanhar (como acontece aliá com os Estados Unidos) a política de preços chinesa.
Refira-se que Xi Jinping publicou este domingo no jornal “Le Figaro” um texto que traz mensagens da China. A China trabalhará com a França para levar adiante o espírito que orientou o estabelecimento das suas relações diplomáticas, aproveitar as conquistas passadas e abrir novas perspetivas para as relações bilaterais. A China abrir-se-á ainda mais para o mundo e aprofundará a cooperação com a França e com outros países.
“Damos as boas-vindas ao investimento de empresas da França e de outros países na China”, escreveu Xi Jinping, acrescentando que, para esse fim, “abrimos plenamente o sector de manufatura da China e avançaremos mais rapidamente para expandir o acesso ao mercado de serviços de telecomunicações, saúde e outros”. “A França está a avançar na reindustrialização com base na inovação verde, enquanto a China está a acelerar o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade. Os nossos dois países podem aprofundar a cooperação em inovação e promover conjuntamente o desenvolvimento verde”, disse ele.
Sobre a crise na Ucrânia, o presidente chinês escreveu que “a China espera que a paz e a estabilidade retornem à Europa em breve. Estamos prontos para trabalhar com a França e com toda a comunidade internacional para encontrar uma saída razoável para a crise”.
“A China e a França têm muitos pontos em comum na questão Palestina-Israel. Portanto, é fundamental que fortaleçamos a cooperação e ajudemos a restaurar a paz no Médio Oriente”, disse ainda. “Tanto a China como a França valorizam a independência como dois grandes países que são”.
Quanto à restante visita à Europa, “a China espera trabalhar com a Sérvia para aproveitar a visita como uma oportunidade para consolidar ainda mais a amizade forte entre os dois países, aumentar a confiança política mútua, expandir a cooperação, abrir um novo capítulo nas relações bilaterais e fazer novas contribuições para a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”, disse o embaixador chinês na Sérvia, Li Ming, citado pela imprensa chinesa.
No que diz respeito à Hungria, país da União Europeia, a China tem-se preocupado em aumentar o relacionamento bilateral. Este ano marca o 75º aniversário do estabelecimento de laços diplomáticos entre a China e a Hungria “e as relações bilaterais enfrentam novas oportunidades importantes, observou recentemente o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi. Que acrescentou que a China está disposta a manter uma comunicação estreita com a Hungria. A China aprecia a determinação da Hungria em aprofundar a cooperação com a China, “apesar da interferência e pressão” externas, disse Wang. Observando que a Hungria assumirá a presidência rotativa da União Europeia (UE) no segundo semestre deste ano, Wang disse que espera que a Hungria promova a visão racional e amigável da União sobre o desenvolvimento da China, seguindo uma política mais ativa e pragmática e promova o desenvolvimento sustentado, estável e saudável das relações China-EU.
O ministro húngaro das Relações Exteriores e do Comércio, Peter Szijjarto, disse na sua última visita a Pequim (no final do mês passado) que a Hungria está interessada em promover o aprofundamento das relações bilaterais, nomeadamente no âmbito da Nova Rita da Seda – um projeto global que tem merecido várias reservas da parte de algumas chancelarias europeias.