Os ponteiros estão prestes a mexer: os relógios adiantam-se uma hora na madrugada deste domingo, 31 de Março, em Portugal, dando início ao horário de Verão. Quando for 1h, os relógios passam para as 2h em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira. Nos Açores, a alteração é feita à meia-noite, altura em que a hora muda para a 1h.
A hora só voltará depois a mudar a 27 de Outubro, passando para o horário de Inverno.
Muitos são os factos curiosos relacionados com a mudança da hora, um regime que é actualmente regulado por uma lei comunitária de 2000, que estipula que os relógios devem ser anualmente adiantados e atrasados uma hora no último domingo de Março e no último domingo de Outubro, respectivamente.
Um ano após ter sido sugerida pela Comissão Europeia, a abolição da mudança da hora foi aprovada pelo Parlamento Europeu em 2019. Mas o Conselho da União Europeia não foi favorável à mudança e é por essa razão que continuamos a alterar os relógios.
Uma ideia de Benjamin Franklin
O ritual que se realiza duas vezes por ano (no fim de Março e de Outubro) teve origem em esforços para reduzir custos no final do século XIX. A ideia passa por transferir uma hora de luz solar do início da manhã para o fim da tarde, para que as pessoas possam aproveitar mais a luz do dia.
O inventor norte-americano Benjamin Franklin é frequentemente apontado como a primeira pessoa a ter sugerido alterar a hora, no século XVIII, depois de se ter apercebido de que estava a desperdiçar as suas manhãs em Paris ao ficar na cama. Por isso, propôs que os franceses disparassem canhões ao nascer do Sol para acordar as pessoas e reduzir o consumo de velas durante a noite, destaca o jornal The New York Times.
Nos cem anos seguintes, a Revolução Industrial lançou as bases para que a ideia da mudança da hora entrasse na política governamental. Durante grande parte do século XIX, o tempo era definido de acordo com o Sol e com as pessoas que controlavam os relógios em cada cidade, criando dezenas de horas conflituantes e estabelecidas localmente. O jornal norte-americano exemplifica que podia ser meio-dia em Nova Iorque, 12h05 em Filadélfia e 12h15 em Boston.
A situação causou problemas às empresas ferroviárias que tentavam deixar os passageiros e a carga a tempo, uma vez que ninguém concordava com a hora. Foi então que, na década de 1840, os caminhos-de-ferro britânicos adoptaram horários normalizados para reduzir a confusão. O horário de Verão foi depois adoptado, durante a Primeira Guerra Mundial, tendo a Alemanha sido a primeira nação europeia a adoptar a prática num esforço para reduzir os custos energéticos em 1916. Nos anos seguintes, vários países ocidentais adoptaram também a medida.
Setenta países
Um dos principais argumentos para a adopção do horário de Verão é precisamente a questão de reduzir os custos energéticos, mas os estudos que têm sido divulgados apresentam resultados contraditórios. Outra questão é o facto de o horário de Verão interferir com o ritmo circadiano, podendo levar a um aumento do risco de acidentes vasculares cerebrais e cardiovasculares e até a mais acidentes de viação.
Em Outubro de 2022, salienta o The New York Times, o México pôs fim ao horário de Verão na maior parte do país (com a excepção da zona ao longo da fronteira com os Estados Unidos). Outros países que não utilizam o horário de Verão são a China, a Índia, a Rússia e vários territórios dos EUA como o Havai e a maior parte do estado do Arizona.
De acordo com o Observatório Real de Greenwich, actualmente, cerca de 70 países em todo o mundo adoptam alguma forma de horário de Verão, principalmente na Europa e na América do Norte. Para os países das regiões equatoriais, a duração da luz do dia varia pouco ao longo do ano, com cerca de dez a 12 horas de luz do dia e dez a 12 horas de escuridão por dia, pelo que a poupança de luz solar não oferece qualquer benefício.
Num inquérito online feito em 2018, a que só 0,33% dos portugueses responderam, 79% disseram preferir acabar com a mudança da hora e manter sempre o horário de Verão. Porém, os cientistas que defendem a suspensão desta prática são a favor de manter o horário de Inverno, por ser a hora mais próxima ao horário solar.
Em Portugal, a mudança da hora foi adoptada no início do século XX, tendo os primeiros decretos sobre a alteração dos relógios surgido em 1916. Desde então, a mudança da hora tornou-se um hábito, mas não aconteceu todos os anos – entre 1992 e 1996, os relógios em Portugal estavam de acordo com o horário de Bruxelas por decisão de Cavaco Silva, então primeiro-ministro, e há quem tenha memória dessa altura em que as crianças iam para a escola de manhã, mas ainda estava de noite.