Ainda não descemos às entranhas da galeria oval do MAAT- Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, e já sentimos o apelo deste vasto mundo sensorial. “Nosso Barco Tambor Terra” fala com o visitante antes sequer de nos aproximarmos. Escultura gigante, universo de células em conexão? Ainda não sabemos, mas esta é uma obra que apela a todos os sentidos e convida o público a explorar o seu corpo e a sua mente através de um percurso em que os aromas nos invadem as narinas, em que o tato se faz convidado, em que as cores nos enchem a retina.
O “causador” de toda esta exaltação sensorial é Ernesto Neto, artista brasileiro nascido na década de 1960 no Rio de Janeiro. Desde muito jovem que a escultura o arrebatou, embora por vezes diga ter tido dúvidas sobre o seu futuro como artista, mas a verdade é que sempre se dedicou a fazer o que mais gosta, ou seja, a explorar os sentidos e as diversas experiências que o mundo natural pode dar ao ser humano através da matéria.
Neste ‘barco’ que Ernesto criou para o MAAT, uma peça orgânica, viva, não se convocam apenas os sentidos, mas também diversas questões políticas, sociais e históricas. E, não menos importante, “o contacto entre o céu e a terra, essa conexão que é uma coisa muito importante no meu trabalho, que desde sempre envolve muito a gravidade, que é essa grande força mãe que organiza tudo nesse grande céu cósmico”, detalha Ernesto Neto antes de nos adentrarmos por este ser pulsante.
A poesia acontece em todo o lugar”
Para melhor percebermos a organicidade e flexibilidade do material que não se revela à primeira vista, Ernesto chama a atenção para o tecido floral, que depois é cortado em tiras, “num trabalho muito colaborativo”, até ganhar a forma que o artista pretende. “A chita foi muito absorvida pela cultura popular brasileira e pelas suas festas teatrais e musicais, que acontecem no Brasil todo. Normalmente, são manifestações culturais indígenas, afro-brasileiras, ou africanas e europeias. Dá para trabalhar com a cor de uma maneira muito generosa e muito orgânica”, sublinha sorridente, antes de afirmar que “a chita é uma materialidade tão antiga e tão presente e, provavelmente, tão futurista”.
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