Liberdade para manipular
Se der com um aracnídeo gigante a passear pelo Castelo de São Jorge, não se assuste: é o Arachnobot de Tim Davies a fazer honras de abertura do 24.º FIMFA – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas de Lisboa. Conte também com talhantes de peluches, a cabeçuda Kamidopof e The Horsemen a cavalgar por ali.
São os primeiros dos 23 espectáculos trazidos pel’A Tarumba ao seu festival, numa edição que “celebra a diversidade e manipula a imaginação” enquanto puxa os fios à liberdade. Desdobrados por nove salas da capital, hão-de proporcionar mais de 100 apresentações no total. A grande maioria vem com o selo de estreia nacional – ou absoluta, no caso de The Dilettante, do lituano Kosmos Theatre, ambientado no surrealismo de Jean Cocteau.
Outros momentos a não perder: La (Nouvelle) Ronde, provocação hiper-realista de Johanny Bert inspirada na obra escandalosa de Arthur Schnitzler; War Maker, em que o palestiniano-jordano Husam Abed projecta as feridas e o absurdo da guerra; as Fábulas Antropofágicas para Dias Fascistas, da brasileira Pigmaleão Escultura Que Mexe; Os Miseráveis em miniatura, pela companhia belga Karyatides; a Dura Dita Dura do Teatro de Ferro, passada “num país onde as paredes tinham ouvidos”; e uma sessão de cinema com Team America: Polícia Mundial, uma paródia de filme a fazer 20 anos.
Espadinha (s)em Vergonha na Cara
Dez anos depois de se ter apresentado do Avesso nos escaparates, Joana Espadinha ressurge (s)em Vergonha na Cara. É álbum de quem resolveu nunca mais moderar o tom, como canta na canção-título. De quem visita qualquer território em que faça sentido a sua voz, ora irónica ora desarmante de franqueza.
Parte do disco cristaliza a sede de canção pop manifestada nos anteriores O Material Tem Sempre Razão (2018) e Ninguém Nos Vai Tirar o Sol (2021); outra reforça o travo confessional e introspectivo que lhe conhecemos desde Avesso. O melhor de dois mundos, portanto, agora ao vivo.
Coexistir, (tecno)logicamente
Coexistência é a palavra de ordem da segunda edição da Index – Bienal de Arte e Tecnologia. Em ano de cinquentenário de Abril, a iniciativa da Braga Media Arts alinha mais de 50 propostas para “pensar no significado da liberdade na actualidade e no importante papel que a tecnologia desempenha nessa definição”, afirma a nota de imprensa. Inteligência artificial, política, (des)informação e futuro da arte fazem parte do leque.
Assente em quatro eixos – performativo, expositivo, educativo e participativo – o programa abre logo com uma sumidade na exploração nas novas possibilidades estéticas abertas pelas tecnologias digitais, neste caso aplicadas à música: o japonês Ryoji Ikeda em modo Ultratronics (também em Lisboa, na véspera, na Culturgest). A seguir, entram em cena as artes e os pensamentos de gente como Lawrence Abu Hamdan, Kode9, Evita Manji, Fréderic Neyrat, Synspecies, Jonas Staal, Sénamé Koffi Agbodjinou ou Teresa Castro.
Mentalizemo-nos
Pense, fale, saiba, reaja. É com estes verbos que o Festival Mental regressa à acção para reforçar o objectivo que o norteia desde 2017: “trazer para a discussão pública a saúde mental e combater a iliteracia que existe sobre o tema”.
Como? Através de uma vasta selecção de filmes que nos podem servir de espelho, ponto de partida ou centelha de mudança. E que geram conversas, debates e outras actividades que também entram no programa, com propostas para todas as idades.
Nesta oitava edição, o pensamento foca-se particularmente na ligação da saúde mental a três áreas – comunicação social, burocracia e música – e dá uma atenção especial ao dating e ghosting nas relações amorosas. Na lista de convidados figuram as psicólogas Maria João Barros e Tânia Graça, a investigadora Rita Sepúlveda, a realizadora Ana Rocha de Sousa, a jornalista Lia Pereira, a musicoterapeuta Ana Franganito e o escritor Ricardo Belo de Morais, entre muitos outros.
Corpo de “confronto e comunhão”
Depois de ter colaborado com coreógrafos como Miguel Moreira, Marlene Monteiro Freitas, Clara Andermatt, Vera Mantero, La Ribot, Paulo Ribeiro ou Rui Horta, a Dançando pela Diferença associa-se à companhia teatral Amarelo Silvestre para levar à cena Corpo Título, “uma instalação com performance dentro”.
É “um espectáculo sobre o corpo, sobre a relação com o corpo, sobre as relações dos corpos entre si, e sobre tudo o que está para além do corpo físico, mas que o envolve e incorpora”, explicam. É uma peça que interpela o público, no sentido de questionar esse conceito e os preconceitos. Mais: convida-o “a sair do lugar tradicional do espectador e estar presente, no palco, em confronto e comunhão com os intérpretes e as intérpretes”, desafiam.
A direcção artística é de Rafaela Santos; a de movimento, de Yola Pinto. A dramaturgia é assinada por Alex Cassal. Corpo Título é uma co-produção do Teatro Viriato, do Teatro Académico Gil Vicente e do Cineteatro Louletano. Depois da estreia em Viseu, dirige-se a Canas de Senhorim (24 e 25 de Maio), Coimbra (5 e 6 de Junho) e Portalegre (15 de Junho).