A liberdade está na rua
Um totem de contentores acolhe movimentos sobre privações e travessias, projectados pela Générik Vapeur. No Blu Infinito do Evolution Dance Theatre, há mergulhos livres em raios luminosos e desafios à gravidade. No céu avista-se a suspensão oscilante de Rozéo, bailado aéreo do Gratte Ciel.
The Black Blues Brothers Show faz acrobacias com fogo, blues e mensagem de uniĂŁo. O VaivĂ©n Circo propõe uma homenagem Ă gente AnĂłnima. AtĂ© se dá ordem para colorir fora das linhas com a companhia Grensgeval em Plock!, teatro fĂsico inspirado em Pollock.
Estas sĂŁo algumas das manifestações da Liberdade que dá o tom Ă 23.ÂŞ edição do Imaginarius e que reafirma, segundo a organização, o carácter “ousado, provocatĂłrio e transformador” do festival feirense de teatro de rua (e de performance, clown, novo circo, mĂşsica, dança…). Há muitas outras a descobrir por toda a cidade. Por estes dias, Ă© ocupada por 190 artistas de uma dĂşzia de paĂses, em 41 espectáculos que, feitas as contas, resultam em 144 sessões.
TĂŁo espacial como Shabazz Palaces
Shabazz Palaces, o projecto norte-americano liderado por Ishmael Butler que se deu a conhecer em 2011, em intensa colaboração com Tendai Maraire, com as celebradas explorações sonoras de Black Up – auspĂcios que se confirmaram no sucessor Lese Majesty (2014) e nos quatro discos seguintes – acaba de voltar aos escaparates.
O novo sopro do seu hip-hop experimental, a atirar para vastidões cĂłsmico-jazzĂsticas e afrofuturistas, está encapsulado nas sete faixas de Exotic Birds of Prey. É ele o pretexto para o regresso a Portugal para dois concertos.
Da Primavera ao sonho
Na abertura, o ambiente pós-Primavera de Praga registado em I’m Not Everything I Want to Be, de Klára Tasovská. No encerramento, o Dream Scenario surreal de Kristoffer Borgli com Nicolas Cage. São dois dos mais de 170 filmes alinhados para o IndieLisboa, entre eles um número-recorde de obras em competição nacional: oito longas e 18 curtas.
Atenção também a All of Us Strangers, romance queer de Andrew Haigh com lastro de apreciação internacional, e No Other Land, o documentário de um colectivo israelo-palestiniano que arrecadou prémios (e polémica) na última Berlinale.
Esta 21.ÂŞ edição tambĂ©m vĂŞ Justine Lemahieu documentar o encontro com Lila Fadista e JoĂŁo Caçador (As Fado Bicha), lembra o Nick Cave dos primĂłrdios e recorda 25 Canções de Abril entoadas em 1977 e captadas por LuĂs Gaspar.
TambĂ©m exibe uma retrospectiva de homenagem Ă s Campanhas de Dinamização Cultural e Acção CĂvica do Movimento das Forças Armadas e outra dedicada ao realizador palestiniano Kamal Aljafari, alĂ©m de inaugurar a secção Rizoma, fazer sessões na piscina e, entre outras ofertas, escolher filmes para juniores e suas famĂlias.
TrĂŞs (grandes) em um
A Companhia Nacional de Bailado prepara-se para estrear Shechter/Wellenkamp/Naharin, um espectáculo habitado por “três nomes maiores da dança contemporânea”, naquele que é o último programa da temporada.
Para começar, dança Uprising, do israelita Hofesh Shechter – uma novidade no repertĂłrio do grupo –, em que “sete homens emergem das sombras para encher o palco com uma energia furiosa, criando laços e lutando, fazendo as pazes e desentendendo-se novamente”. Depois, vem a Sinfonia dos Salmos na (re)visĂŁo do veterano Vasco Wellenkamp, antigo director artĂstico da companhia, que agora o convida a regressar a esse espectáculo que criou, em 1992, para o extinto Ballet Gulbenkian. Por fim, vem Minus 16, de Ohad Naharin, obra com “uma partitura musical marcadamente eclĂ©ctica” que nasce de criações anteriores do coreĂłgrafo israelita.
Tanto Mar de lusofonia
Por acção da Folha de Medronho, associação louletana de artes performativas, a cidade algarvia torna a virar-se para Tanto Mar, um festival que “nĂŁo pretende ser apenas uma mostra de criação artĂstica, mas tambĂ©m uma ágora de reflexĂŁo polĂtica e social” proporcionada por encontros “com artistas e grupos portugueses, brasileiros e africanos”.
A prata da casa Ă© representada pelas Lendias d’Encantar e suas personagens No Limite da Dor de estar Ă s mĂŁos da polĂcia polĂtica do Estado Novo. De SĂŁo TomĂ© e PrĂncipe vem a Ilha dos Sem Terra, pela RaizArte, acerca de pertença e identidade. O brasileiro Teatro Por Que NĂŁo?, de Rio Grande do Sul, vem mostrar por que NĂŁo Há Mar, numa reflexĂŁo a dois sobre isolamento, confinamento e “a depressĂŁo e a angĂşstia de se pertencer a um mundo doente”.
A música também entra, com a moçambicana Lenna Bahule a fazer eco de Kumlango e a aproveitar a visita para orientar o workshop Batucorpo – Fazer música com o corpo e a alma. Nesta quinta edição cabem ainda Tantas Conversas (com moderação do guineense Miguel de Barros), o lançamento do livro 5 Anos de Marés e a projecção do documentário Colosso.