É a resposta europeia à OpenAI, criadora do ChatGPT. Fundada há um ano, a Mistral, uma start-up francesa que se foca no desenvolvimento de tecnologia de inteligência artificial (IA), encontra-se agora a angariar cerca de 500 milhões de euros junto de vários investidores – o que poderá elevar o seu valor para, pelo menos, 5 mil milhões, de acordo com o The Information.
O rápido crescimento da start-up, mesmo num contexto de “boom” da tecnologia de inteligência artificial, é surpreendente. No início do ano, a empresa conseguiu angariar 400 milhões de euros, aumentando o seu valor de mercado para dois mil milhões. Mas o quê que a faz sobressair tanto da sua competição?
Em primeiro lugar, é a empresa europeia que está mais bem-posicionada para responder aos avanços tecnológicos de Silicon Valley neste setor, como a OpenAI (aposta da Microsoft) e a Anthropic (aposta da Google). No ano em que existiu, a Mistral já lançou várias versões do seu modelo de inteligência artificial, criou o Le Chat, plataforma similar ao ChatGPT, e, em poucos meses, começou a dar lucro.
Além disso, e ao contrário das suas principais concorrentes, a start-up está a apostar num modelo “open-source” – ou seja, um modelo que permite o acesso público ao seu código e o desenvolvimento do mesmo por terceiros. Este é, aliás, o modelo privilegiado pela nova lei de inteligência artificial, aprovada em março pelo Parlamento Europeu. Só com dez funcionários, a empresa foi capaz de lançar o seu primeiro modelo de IA, que treinou por menos de 500 mil dólares, segundo informações do Financial Times – o que representa um nível de custos muito menos elevado que os seus principais concorrentes.
O sucesso da empresa é tão grande que levou um dos seus investidores a afirmar, em entrevista ao Financial Times, que o atual CEO da empresa, Arthur Mensch, “simboliza todas as esperanças que as pessoas tiveram para a Europa durante muito tempo” – e é este entusiasmo que tem tornado as angariações de fundos tão acessíveis para a empresa. Entre os vários investidores, destacam-se, por exemplo, a Lightspeed Venture Partners, a Nvidia (que produz chips necessários para a tecnologia de IA) e o ex-presidente executivo da Google Eric Schmidt.
Tal como a OpenAI e a Anthropic, a Mistral está a utilizar os chamados “large language models” (LLMs), que permitem a produção de textos e áudios com uma grande fidelidade humana, bem como imagens e dados sintéticos. Operar estes modelos traz, no entanto, custos elevados, uma vez que é necessário um grande poder computacional para os pôr em prática – daí a necessidade de grandes investimentos no setor.
A questão que prevalece é, no entanto, se a Mistral vai conseguir competir com as gigantes tecnológicas no setor da inteligência artificial. O que é certo é que a start-up francesa já conseguiu assegurar várias parcerias neste ramo, nomeadamente com empresas como a Databricks, a Amazon e, até mesmo, a Microsoft – que também investe na sua principal rival, OpenAI.
O acordo entre a empresa fundada por Bill Gates e a Mistral, celebrado em fevereiro, contou com um investimento de 15 milhões de euros e prevê a disponibilização dos seus modelos de IA aos clientes da plataforma de cloud Azure, conta a Bloomberg. Devido à grande conexão da Microsoft com a OpenAI, a Comissão Europeia decidiu analisar este investimento, levantando dúvidas sobre uma alegada “concentração de poderes” e desrespeito das leis da concorrência – que pode ainda levar a uma futura investigação formal por parte do órgão regulador.
A Mistral é o grande ativo francês para posicionar o país como um bastião do dinamismo de IA na Europa. Emmanuel Macron tem adotado uma posição de pró-regulação e pró-inovação neste campo, e pretende utilizar a start-up para fortalecer a sua posição contra os titãs de Silicon Valley e da China, de acordo com informações do Politico.