O Parlamento ucraniano aprovou um projeto de lei, que alarga a mobilização civil, contando com mão de obra militar incipiente. As forças ucranianas têm-se confrontado com uma discrepância no terreno, face a um inimigo maior e mais bem armado. A legislação foi aprovada com uma maioria de 283 votos. Foi, paralelamente, cancelada a data de desmobilização para os soldados que passaram longos períodos a lutar nas linhas da frente.
No entanto, a notícia da retenção dos militares no terreno, impedindo-os de regressar a casa, surge num momento em que a fadiga interna se instala, nota o jornal “The Guardian”. Na semana passada, Zelensky já tinha assinado um projeto de lei que previa a redução da idade mínima de recrutamento, de 27 para 25 anos. Num outro projeto de lei, exige-se que os homens que receberam dispensa militar por motivos de deficiência sejam submetidos a outra avaliação médica. Circulam nas redes sociais vídeos que mostram homens retirados da rua, onde viviam sem abrigo, a serem recrutados.
Mas o parlamentar Oleksandr Fedienko está convencido de que a aprovação da legislação para a mobilização envia uma mensagem, a de que a Ucrânia está pronta para recapturar o seu território na íntegra. Oleksandr Pavliuk, comandante das forças terrestres, apelou aos ucranianos, no início desta semana, para se alistarem no Exército.
No campo de batalha, a Rússia avança lentamente a leste, e a Ucrânia está em desvantagem, enfrentando a escassez de projéteis de artilharia, devido à desaceleração na assistência militar ocidental. As forças russas superam as tropas ucranianas em entre sete e 10 vezes nas regiões de leste, admitiu o general ucraniano Yuriy Sodol. “O inimigo é sete a 10 vezes maior do que nós, falta-nos mão de obra”, estimou Sodol, que comanda as tropas nas regiões de Kharkiv, Donetsk e Luhansk.
Será o uso em massa de bombas guiadas, contendo componentes estrangeiros, que estarão também a impulsionar os avanços russos. Cerca de 500 bombas são disparadas por semana, pelo menos a avaliar por um estudo dado a conhecer pelo Governo ucraniano. As bombas de alto poder explosivo e de fragmentação, com um alcance de 40 a 60 km, são agora consideradas uma ameaça central na linha da frente, forçando o recuo das forças ucranianas. Estas armas são disparadas por aeronaves, e estiveram na origem da destruição da cidade de Avdiivka.
Moscovo lançou um grande ataque a infraestruturas da rede de energia da Ucrânia. A manhã desta quinta-feira em Kharkiv começou com o som das explosões. Na sequência dos ataques, 200 mil pessoas ficaram sem energia. A operadora nacional da rede, a Ukrenergo, adiantou que em cinco regiões várias instalações foram danificadas. Volodymyr Zelensky disse que 40 mísseis e 40 drones foram lançados durante a noite. Nos arredores de Kiev, a central térmica de Trypilska foi completamente destruída, noticia a “Sky News”.
Outras notícias a destacar:
⇒ O Governo da Suécia anunciou que vai gastar 385 milhões de coroas suecas (33 milhões de euros) para reforçar os abrigos antiatómicos, os serviços de emergência e a defesa civil. A Suécia, que aderiu à NATO no início de março, está a investir para melhorar as capacidades operacionais dos seus serviços de emergência em caso de conflito, além de reforçar a sua segurança cibernética e complementar a sua reserva de medicamentos, declarou o ministro da Defesa Civil sueco, Carl-Oskar Bohlin.
⇒ Os serviços de informação ucranianos alegam que a Rússia alocou mais de 58 mil milhões de rublos (cerca de 587 milhões de euros), ao longo de 2023, para financiar atividades de propaganda interna. O Kremlin confiou este tipo de atividades a organizações supostamente sem ligações diretas ao Governo russo, mas que na realidade agem em nome do Executivo, alegam autoridades ucranianas.
⇒ O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, apelou a uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia que respeite a “integridade territorial” do país, uma mudança de tom depois de declarações anteriores vistas como favoráveis à Federação Russa. “O recurso à força militar pela Federação Russa na Ucrânia é uma violação grosseira do direito internacional”, disse desta vez, advogando que Kiev precisava de ajuda e solidariedade.
⇒ Portugal criticou o veto russo que levou à dissolução do sistema de monitorização de sanções à Coreia do Norte, dizendo que se trata de “uma tentativa mal disfarçada” de Moscovo “mascarar transferências ilegais de armas de e para” Pyongyang. Numa sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas em que a Rússia teve de justificar o veto que aplicou em março a uma resolução que prolongaria até 2025 o mandato do painel de peritos que auxilia o comité de sanções para a Coreia do Norte, Portugal, pela voz do representante permanente adjunto português, Jorge Aranda, foi um dos vários países que criticou o posicionamento russo e defendeu a responsabilização de Moscovo pelas suas ações.