Mais de mil pessoas participaram este domingo na marcha ‘Abril pela Palestina’, em Lisboa, em solidariedade com os habitantes da Faixa de Gaza, vítimas da guerra iniciada há seis meses entre Israel e o grupo extremista Hamas. A marcha começou na Praça do Município pelas 15h40, em direção ao Largo do Intendente.
A poucos dias de se assinalarem os 50 anos da Revolução Portuguesa, a organização quis também recordar a data. “Com Abril veio a liberdade, obviamente, e veio a descolonização”, assinalou à Lusa Ana Nicolau, ativista da Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina (PUSP), fazendo um paralelo com a situação de Israel e da Palestina.
“Não deixa de ser irónico que no dia em que passam 30 anos sobre o massacre de Ruanda, estamos na rua para chamar a atenção, para dizer que chega de um novo genocídio, desta vez na Palestina (…) e o mundo continua a dormir. Israel ignora o Tribunal Internacional, Israel ignora o Conselho de Segurança da ONU, Israel ignora tudo”, criticou a ativista, defendendo sanções económicas contra Israel.
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“Já se percebeu que Israel não vai agir de acordo com o Direito”, afirmou, lembrando que a PUSP foi fundada quando a atual guerra começou. “Nunca pensámos que seis meses depois ainda estaríamos aqui e que teríamos que continuar. E vamos continuar: o cansaço já é muito grande, mas não é nada comparado com o que estão a sentir e a passar as pessoas lá.”
Também no local, o jovem iraquiano Akram diz ter participado já em três manifestações porque se deve “mostrar a solidariedade” à Palestina. À pergunta se continuará a juntar-se a ações como esta, o jovem que está há três anos em Portugal respondeu que todos vão continuar. “As nossas gerações vão continuar até a Palestina ser livre. Até cada palestiniano ter a sua justiça”, garantiu.
Ainda no edifício da Câmara Municipal de Lisboa, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, defendeu ser um dever de Portugal reconhecer o Estado da Palestina e desafiou o ministro dos Negócios Estrangeiros [Paulo Rangel] a abandonar “posições irresponsáveis em que negava o genocídio” em Gaza.
Israel retira tropas do sul de Gaza, mas vai continuar a guerra
O dia começou com uma notícia inesperada: após semanas de muita pressão vinda dos EUA, Israel tinha começado a retirar tropas do sul de Gaza, deixando apenas uma brigada.
Depois, a história foi sendo melhor contada: “Pelo que entendemos e pelos anúncios públicos, este é na verdade um período de descanso e de recuperação física para as tropas que estão no terreno há quatro meses”, disse John Kirby, porta-voz da Casa Branca, em declarações à televisão norte-americana ABC.
Telavive confirmou isso de imediato: “A retirada das tropas de Khan Yunis aconteceu porque o Hamas deixou de existir como unidade militar na cidade. As nossas forças abandonaram a área para se prepararem para futuras missões, incluindo uma missão em Rafah”, garantiu Yoav Gallant, ministro da Defesa.
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Horas antes, o primeiro-ministro israelita mostrou-se confiante. “Estamos a um passo da vitória, mas o preço a pagar é doloroso”, afirmou Benjamin Netanyahu, antes de reunir o gabinete de guerra do seu Governo.
“Deixei bem claro à comunidade internacional: não haverá um cessar-fogo sem o regresso dos reféns” que continuam nas mãos do Hamas, garantiu ainda, numa altura em que está a começar uma nova ronda de negociações no Cairo, Egito, com a presença do Catar e dos Estados Unidos.
Outras notícias
> Além de Lisboa, quase 30 cidades organizaram manifestações de apoio à Palestina: Nova Iorque, Paris, Berlim, Hong Kong e Madrid, por exemplo. Em Israel, cerca de 50 mil pessoas manifestaram-se em frente ao Knesset (parlamento ) para exigir o regresso dos 133 reféns que continuam sequestrados pelo Hamas, além da demissão de Netanyahu e eleições antecipadas.
> A justiça do Egito decidiu libertar todas as pessoas que foram detidas na quarta-feira durante um protesto de apoio à Palestina. A informação foi avançada pelo sindicato dos jornalistas no Cairo. Durante a manifestação, pelo menos 11 pessoas foram detidas por “provocarem o caos” e “espalharem notícias falsas”. Outras oito pessoas foram detidas nas horas seguintes sob acusações idênticas.
> Já morreram pelo menos 33 175 mil pessoas desde o início da guerra na Faixa de Gaza, anunciaram hoje as autoridades do Hamas. 42% das vítimas são crianças. “A ocupação israelita cometeu quatro massacres contra famílias, causando 38 mortos e 71 feridos em hospitais durante as últimas 24 horas”, afirmou em comunicado o grupo radical que controla o enclave.