Trata-se de um funeral simbólico, mas com honras de Estado e uma procissão de seis quilómetros, entre a Universidade de Teerão e a gigantesca Praça Azadi, no centro da capital iraniana, com milhares de pessoas a acompanharem o caixão de Ismail Haniyeh, máximo líder político do Hamas e o rosto do movimento palestiniano. Ali Khamenei, Guia Supremo do Irão, liderou as orações, ainda na universidade, num funeral onde se têm repetido as promessas de vingança pela sua morte.
“É a nação que carrega hoje o seu caixão, e a nação ergue hoje a bandeira da jihad [guerra santa] e da resistência com o objectivo de libertar a Palestina e Jerusalém”, afirmou Khalil al-Hayya, chefe-adjunto do Hamas na Faixa de Gaza, ao discursar no funeral, esta quinta-feira de manhã, em Teerão.
“É nosso dever responder no momento certo e no local certo”, disse Mohammad Bagher Ghalibaf, presidente do Parlamento iraniano e candidato derrotado nas eleições presidenciais. “Morte a Israel, Morte à América!”, gritou a multidão durante o seu discurso.
Haniyeh será sepultado, na sexta-feira, em Doha, a capital do Qatar, onde viveu nos últimos anos. Mas a República Islâmica não podia deixar de organizar estas cerimónias, depois do choque da sua morte, num ataque israelita, horas depois de ter assistido à tomada de posse do novo Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, e de ter estado reunido com o próprio Khamenei.
O líder iraniano reagiu à notícia da morte de Haniyeh declarando que era “o dever de Teerão” vingar a sua morte, e que teria de haver um “castigo duro”. Citando três funcionários do regime, sob anonimato, o jornal The New York Times escreveu que Khamenei ordenou um ataque directo contra Israel. Na reunião de emergência do Conselho Supremo de Segurança Nacional, realizada na quarta-feira na sua residência, terá ainda dito aos Guardas da Revolução Islâmica que preparassem planos de ataque e de defesa “no caso de a guerra se expandir e Israel ou os Estados Unidos atacarem o Irão”.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, voltou a pedir que sejam evitadas “acções de escalada”: “Neste momento, o caminho que a região está a seguir é em direcção a mais conflitos, mais violência, mais sofrimento, mais insegurança. É fundamental quebrar este ciclo. E isso começa com um cessar-fogo” na Faixa de Gaza, disse Blinken, explicando que tem passado as últimas 24 horas em contactos com os seus homólogos no Médio Oriente.
A morte de Hanieyh ocorre quando os Estados Unidos estavam novamente empenhados num esforço para levar Israel e o Hamas a assinarem um acordo que permita declarar um cessar-fogo em Gaza e leve à libertação dos reféns israelitas que ali continuam. Dentro do movimento palestiniano, Hanieyh era o maior defensor das negociações.