Há cada vez mais pessoas internadas nos hospitais públicos, depois de alta clínica, por não terem para onde ir. Em março, estavam ocupadas mais de duas mil camas, com um custo superior a 68 milhões de euros para o Estado.
Os chamados internamentos sociais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentaram 11% face ao mesmo período de 2023.
O Barómetro dos Internamentos Sociais, apresentado esta quarta-feira, indica que no dia 20 de março deste ano havia 2.164 camas ocupadas por pessoas que já não deviam estar no hospital, mais 209 que no ano passado.
Para a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), estes dados mostram que a estratégia do anterior Governo para libertar camas não funcionou.
“Não foi suficiente para a procura que temos tido”, afirma Xavier Barreto, presidente da APAH. “Temos claramente um envelhecimento da população, uma perda de autonomia crescente por parte de uma parte significativa da nossa população e não nos preparamos para isso. Portanto, temos aqui um problema grave que tem essencialmente contornos sociais.”
Cada doente fica em média 175 dias a ocupar uma cama depois de ter alta clínica. Em 75% dos casos devido à falta de vagas na rede de cuidados continuados e nas residências para idosos.
O problema é maior nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte, que contabilizam mais de 80% do número total de internamentos indevidos com impacto negativo para todo o SNS.
“Um doente que está internado no hospital está exposto a mais riscos, por exemplo, de infeção hospitalar”, mas também há problemas para os para os hospitais, com “dezenas de doentes à espera de uma cama” e consequências financeiras, lembra a APAH, estimando um impacto superior a 260 milhões de euros por ano.
“Precisamos urgentemente dar condições aos nossos conselhos de administração [hospitalares] de poder ter essa capacidade disponível, nomeadamente internamento disponível, para aqueles que vão precisar sobretudo no inverno, e também para a capacidade programada”, aponta a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que o Governo vai pôr em prática através do plano de emergência e do PRR.
Xavier Barreto reconhece que está prevista no PRR “a criação de mais 5000 camas de cuidados continuados”, mas considera que “provavelmente não chegará: quando estiverem concluídas, dentro de alguns anos, se calhar serão insuficientes e teremos que investir ainda mais nesse momento”.
Além disso, o Governo tem de responder à pergunta “qual é o grau de execução desse investimento”, defende o presidente da APAH.
A 8.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais contou com a participação de 29 unidades hospitalares do SNS, num total de mais de 20 mil camas do SNS.