A por ora Presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola, partilhou na manhã de ontem nas suas redes sociais um vídeo através do qual nos informa que o Eurobarómetro publicado ontem demonstra que a maioria dos europeus tem intenções de votar em junho e quer um papel mais proeminente para a instituição, em relação à qual a perceção positiva aumentou nos últimos seis meses. Apesar da importância destes dados, em Portugal ainda pouco ou nada se discute sobre as tantas e tão variadas matérias que estarão em jogo nos próximos cinco anos e para as quais o país precisa não só de uma estratégia e pensamento claros, mas também de uma representação forte.
Nas últimas semanas, o debate público tem sido ocupado por fantasmas do passado político nacional – ou figuras políticas nacionais que querem ressuscitar fantasmas do passado – e por embustes profundamente sintomáticos do atual panorama democrático que merecem ser processados com a seriedade que a sua gravidade impõe mas sem com isso roubar o oxigénio coletivo necessário para os problemas estruturais e para as questões essenciais para Portugal ainda por desbravar, incluindo o seu papel na UE e a sustentabilidade desta última face aos dias que vivemos. Outro dado particularmente interessante revelado por este último Eurobarómetro é a ligação existente entre o aumento do interesse dos cidadãos pela Europa e as preocupações quanto às atuais tensões geopolíticas globais. É por isso que, tal como noticiado, esse interesse é ainda mais vincado em países diretamente impactados pela guerra na Ucrânia e que há uma opinião favorável a um reforço da política comum de segurança e defesa da UE, agora a terceira prioridade dos europeus precedida pela luta contra a pobreza e o apoio à saúde pública.
Entretanto, em Bruxelas, há toda uma expetativa em torno do usual jogo de cadeiras pós-eleitoral que cresce à medida que se aproxima o dia do escrutínio. Os números das eleições de 9 de junho ditarão quais as forças políticas que crescem, diminuem ou se mantêm e, com isso, determinarão a força negocial de cada uma delas para garantir representatividade nos cargos europeus de topo. Se no passado esta dança política estava simplificada pela existência de dois grandes partidos políticos em comparação com os restantes (ou seja, o Partido Popular Europeu e o Partido Socialista Europeu), desta feita o caso pode e muito provavelmente irá mudar de figura. Entre outras probabilidades, as forças conservadoras a que se associam atuais líderes como a primeira-ministra italiana Georgia Meloni e Viktor Orbán ganharão um novo ímpeto e, como tal, vão influenciar uma mudança de paradigma na dinâmica de alianças conhecidas até hoje dentro do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu (para pior, seja pelas inclinações pró-russas ou pelas posições de ataque aos nossos direitos fundamentais), até mesmo através das suas nomeações nacionais para o colégio europeu de Comissários. Daí que seja igualmente de louvar que o novo governo privilegie o interesse nacional e não se oponha a uma eventual presidência do Conselho Europeu por António Costa.
No que diz respeito à Presidência da própria Comissão Europeia, o anúncio da recandidatura de Ursula von der Leyen não surpreendeu e a sua reeleição era até recentemente dada como quase certa. Contudo, não só Portugal vive de escândalos e o último testemunhado nos corredores da bolha europeia veio colocar essa quase certeza em causa, abrindo uma nova série de interrogações nas quais só as urnas colocarão o ponto final. Escrevo, em particular, sobre a decisão da Presidente da Comissão de atribuir um cargo oficial de relevo a um membro do mesmo partido político alemão apesar das outras duas candidatas na corrida terem melhores resultados nos testes de seleção. É um caso que, aliás, veio provar e reforçar o papel de escrutínio do Parlamento Europeu, que em sessão plenária na passada quinta-feira aprovou com larga maioria a exigência de que a Presidente repita o processo de seleção.
Em qualquer dos cenários, o que parece evidente é que as forças progressistas europeias vão perder a margem de manobra de que se puderam fazer valer até hoje. Ao mesmo tempo, com uma perceção de que o papel da UE no mundo é mais forte de que no passado não obstante os desafios que enfrenta em áreas-chave como a segurança e a defesa, a energia, a segurança alimentar e a agricultura (pense-se nas várias manifestações de agricultores que tiveram lugar por toda a Europa nos últimos meses), o Eurobarómetro de ontem parece indicar que há um novo impulso a ser valorizado pelos pró-europeístas, um grupo no topo do qual os portugueses se encontram consistentemente. Seria, então, de esperar que as forças que os representam – ou pretendem representar – se mobilizem muito em breve e com substância de modo a que, no decorrer das negociações para as quais se sentarão em breve as diferentes figuras de liderança em todos os campos políticos, nos seja garantido um lugar à mesa.
As opiniões expressas neste artigo são estritamente pessoais e não representam as posições do Parlamento Europeu ou do grupo S&D.