Este livro começa com uma carta para todas as mulheres que são mães ou que têm esse projeto futuro. O que a fez querer dirigir-se a elas?
Acima de tudo, quis ser lida e recebida num tom de esperança. Com leveza. Mas também porque sinto que nós, mulheres, precisamos de criar um universo de união e de identificação que sirva para nos acolhermos umas às outras, sobretudo quando percebemos que não somos as únicas a passar por determinadas situações que a maternidade implica e exige. A ideia não era fazer um guia prático ou uma ferramenta à qual se possa recorrer quando é necessário, mas antes um conjunto de partilhas entre mulheres – que somos curiosas e informadas sobre várias áreas – mas que, na hora ‘H’, sentimos que é importante ter acesso a informação que seja atualizada, fundamentada e validada por especialistas e profissionais de saúde. Essa informação pode fazer a diferença na experiência da maternidade.
Foram, de facto, muitos os especialistas que participaram neste livro. Estas foram as pessoas que a acompanharam desde o início da sua própria experiência com a maternidade?
Exatamente. Um dos meus maiores sonhos sempre foi ser mãe e, talvez por isso, sempre vivi neste universo muito fantasioso que se cria em redor da maternidade, da gravidez e, depois, da chegada do bebé. Em abono da verdade, fala-se muito – e com ideias quase à superfície – sobre o enxoval do bebé, o quarto, a cor do papel de parede, mas os temas principais, aqueles que verdadeiramente importam, ficam muitas vezes encobertos. Quis trazer aqui alguma luz sobre esses assuntos. Olho para este trabalho como ‘o livro’ que eu queria ter consultado antes, durante e depois da minha gravidez, por trazer um conjunto de perspetivas de profissionais atualizados e disponíveis para partilhar a sua informação sobre os diferentes estágios. Conto, por exemplo, com a colaboração da Dra. Mariana Torres, uma das pessoas que mais se preocupa em humanizar e respeitar toda a experiência do parto e da gravidez; consultoras de amamentação; consultoras do sono que defendem estratégias respeitosas para o bebé e para nós; especialistas em exercício físico, algo que é essencial para o nosso bem estar; fisioterapeutas… Foi um privilégio contar com a disponibilidade de todas estas pessoas, que trouxeram muita riqueza e valor ao livro.
Sentiu que houve temas mais difíceis de abordar? Ou aqueles que antes de sermos mais nem sequer nos passam pela cabeça que possam ser temas?
A meu ver, o grande desafio foi a privação de sono que passei nos primeiros meses de vida da Esperança. Depois, o facto de viver numa sociedade que é altamente exigente com a mulher e que reclama que esta consiga continuar a desempenhar todos os seus vários papéis: continuar a responder a todos os desafios profissionais que lhe são propostos, a que se juntam depois os desafios da vida pessoal e familiar. Ora este constante desdobramento entre essas múltiplas facetas é, nos dias de hoje, o grande desafio da maternidade.
E é por isso que a sua carreira de atriz agora está um bocadinho em pausa?
Sim, porque defini como a minha grande prioridade cuidar da Esperança nos seus primeiros anos de vida. Sinto que é fundamental criar esta ligação nos primeiros tempos para que se desenvolva de forma mais confiante e autónoma depois.
E esta etapa tem um final no horizonte ou ainda está por definir consoante os desafios seguintes?
Acho que cada criança tem o seu próprio ritmo e, por isso, sem dúvida que será a segunda hipótese. O regresso acontecerá quando sentir que a Esperança está preparada e que eu também estou preparada para esse desapego e para voltar à minha vida profissional.
De quem partiu a iniciativa?
Foi lançada pela editora e eu, sem me reconhecer a mim própria como um grande talento literário, receei e hesitei no início. Mas depois comecei a pensar: “E porque não?” Porque, de facto, toda a informação que fui recolhendo ao longo da gravidez foi preponderante e decisiva para uma experiência positiva e então decidi honrar este desafio.
Como se sentiu a desbravar o universo da escrita, logo com uma grande ‘empreitada’, um livro?
A grande vantagem é que foi um livro cuja escrita se estendeu por vários meses – todo o primeiro ano de vida da Esperança – e, portanto, desdobrou-se pelas várias etapas que estava a viver. Permitiu-me acompanhar o desenvolvimento da minha filha e as necessidades que ela foi demonstrando ao longo desse tempo e, ao simultaneamente, transpor essas experiências para o livro. Consegui, por exemplo, falar da importância da introdução alimentar, de todas expectativas, das diferentes aquisições motoras neste primeiro ano, mas sempre com muita serenidade e tranquilidade.
E agora, com este conhecimento tão bem estruturado, está nos planos dar um mano ou uma mana à Esperança?
Está, sem dúvida. Não para já, mas quero muito.
Sente que ser mãe a transformou? Alguma vez pensou dedicar tanto de si a outro ser?
A maternidade é muito transformadora na vida das mulheres. Mas a minha conceção sobre algumas coisas também mudou. Antes, por exemplo, pensava que a distância ideal entre os vários filhos era de dois anos e que ao fim desse tempo ia estar preparadíssima para ter outro bebé, mas agora não. As necessidades e as exigências de uma criança, até ter alguma autonomia, vão muito para lá dos dois anos. Diria que três anos!
A Catarina trabalha muito através das redes sociais e vai integrando a Esperança nas suas publicações de uma forma natural. Acha que será sempre assim ou sente que, no futuro, poderá sentir a necessidade de a resguardar mais dos olhares do público?
Acho que as experiências que vamos tendo com os nossos filhos vão também direcionando a forma como lidamos com as redes sociais. Por enquanto, tento mantê-la de uma forma equilibrada, porque sinto que isso nunca afetou negativamente a vida dela ou a minha – até pelo contrário. Sinto que é uma criança muito querida e acarinhada pelas pessoas e, por isso, tudo o que traz tanto amor… é para deixar ficar.