Dez dias para percorrer mais de 6.000 quilómetros em quatro países e conhecer 14 projetos financiados pela União Europeia (UE). Foi esta a proposta feita a Mariana Ribeiro, Daniel Furtado e Filipe Cardoso, três influencers portugueses. Ao longo da viagem, descobriram e partilharam com os seus seguidores os projetos apoiados pelo fundo de coesão da UE, uma iniciativa que representa um terço do financiamento europeu, cerca de 392 mil milhões de euros.
A viagem, denominada ‘Cohesion Story Quest’, passou pela Polónia, Bulgária, Países Baixos e Portugal e reuniu 12 influenciadores digitais para alcançar uma audiência que, tradicionalmente, não presta muita atenção a conteúdo político. Dos três portugueses, Mariana Ribeiro é a única que já tinha participado em outra iniciativa promovida pela UE, um workshop em Alicante, Espanha, onde aprendeu sobre assuntos como patentes e proteção de conteúdo.
O foco em viagens e o lado empreendedor, que motivou Mariana a criar uma marca de roupa, a “Flair by MR”, cativou uma agência de comunicação, que perguntou se a jovem estaria interessada em participar neste projeto. “Nós não conhecíamos os projetos antes de ir, não tínhamos noção, só sabíamos os sítios onde íamos ficar e eu nem sequer conhecia os outros criadores que iam estar presentes. Então foi um bocadinho ir para o desconhecido, mas não estava receosa”, explica.
Um sentimento partilhado por Daniel e Filipe que decidiram embarcar logo no projeto. “Sou bastante fã da União Europeia”, confessa Filipe Cardoso, fotógrafo e videógrafo. A única dúvida que tinha seria como iria comunicar esta experiência ao seu público, mas considerou a abordagem demasiado interessante para perder esta aventura.
A diversidade dos projetos financiados vai desde a Vista Alegre até uma estação de comboios
Na Bulgária brilhou a educação, na Polónia os transportes, em Portugal a inovação e nos Países Baixos a tecnologia. Daniel Furtado recorda o projeto ‘United in Diversity’ em Tryavna, na Bulgária, onde descobriu que os fundos europeus também podem ser investidos em “boas causas”. A escola secundária nesta cidade búlgara pretende integrar os estudantes provenientes de comunidades ciganas através de clubes com temas tão diversos como tradições, psicologia ou moda feita a partir de materiais reciclados.
“A Bulgária é um país muito menos desenvolvido do que os outros três que visitamos. Os fundos [europeus] fazem muita diferença, por exemplo, na vida das comunidades ciganas, que foi aquilo que nós mais vimos… projetos financiados no sentido de integrar estas comunidades”, diz Mariana.
A empreendedora recorda o espetáculo com dança e um desfile de moda que os alunos prepararam para os receber numa escola em Pernik, que possui vários clubes para motivar as crianças ciganas. “Já que a inserção na sociedade é um bocadinho difícil, então vão puxar pela criatividade destes alunos, porque assim, eles vão ser muito melhores nas atividades que gostam de fazer e vão se dedicar muito mais do que só a aprender matemática ou gramática, o que acaba por ser muito mais difícil para estes alunos que estão agora a começar o processo educativo”, explica.
Também tiveram oportunidades de experimentar tentar recriar os bordados tradicionais na Bulgária, utilizar os recursos interativos no Museu de Engenharia e Tecnologia em Cracóvia, na Polónia, e utilizar a realidade virtual no centro de saúde E-mental, nos Países Baixos, uma tecnologia usada ajudar a procurar soluções na área da saúde mental. “É muito esse lado de estar a vivê-los presencialmente e conhecer os projetos na primeira pessoa, que me vai também ajudar a conseguir passar a mensagem, mostrar aquilo que eu vi e depois falar daquilo que vi à minha audiência”, explica Filipe.
Em Portugal, o grupo visitou a Vista Alegre, que beneficiou dos fundos de coesão europeus para modernizar a fábrica, investir em novas tecnologias e práticas sustentáveis, além de terem contribuído para lançar a marca internacionalmente. Em Santo Tirso, descobriram o projeto Atlantic Youth Creative Hubs (AYCH), que promove o empreendedorismo e emprego jovem, conectando jovens e ideias de diferentes hubs internacionais.
Em Oliveira do Hospital, no interior do distrito de Coimbra, visitaram a BLC3 – Campus de Tecnologia e Inovação, uma associação sem fins lucrativos que desenvolve atividades de investigação e desenvolvimento, bem como incuba ideias e empresas. “Eu não fazia ideia que existia um complexo como o BCL3 no interior do nosso país, com imensos trabalhadores e startups. Foi incrível perceber que mesmo no interior se está a desenvolver e a criar um espaço para que jovens consigam ter ideias de negócio, consigam desenvolvê-las e tenham apoio nesse sentido. Achava que se quiséssemos trabalhar com algum projeto de novo, só mesmo no Porto e em Lisboa é que teríamos essa possibilidade, por isso, ver isso acontecer no interior é muito importante”, sublinha Mariana.
A curiosidade sobre a União Europeia contagiou o público e os próprios influenciadores digitais
No total, os 12 influencers gastaram 52 horas a viajar numa carrinha entre os projetos. “Eu gosto de viajar e estou habituado” a viagens exigentes, conta Daniel Furtado que, ainda assim, considerou que a rota pelas 14 iniciativas foi “extremamente cansativa”, com “pouco tempo em cada projeto para conseguir absorver e ouvir as pessoas” e conseguir idealizar as melhores formas criar os conteúdos.
Mariana e Filipe também sentiram o mesmo cansaço, mas consideram que o esforço foi recompensado. Filipe, que ainda está a publicar alguns conteúdos, diz que tem recebido muitas mensagens de curiosos que admitem ser interessante perceber onde são aplicados os fundos europeus. Já a fundadora de uma marca de vestuário confessa que esperava que o feedback dos seguidores fosse pouco ou não tão positivo por se tratar de um tópico diferente daquilo que costuma partilhar, mas “por ser diferente e por ser desconhecido, as pessoas estavam muito interessadas”.
“Notei que ao fim do primeiro dia, segundo dia, estava a ter as visualizações num nível de 60%, às vezes, na metade do que eu costumo ter”, explica Daniel que, normalmente, conta com cinco mil visualizações. Durante a viagem o número decaiu para cerca de três mil. No entanto, aqueles que viam os stories (publicações no Instagram com a duração de 24 horas) mandavam mensagens para conversar sobre os projetos, até então desconhecidos. “Mesmo eu não fazia ideia sobre o que havia de apoios, até mesmo para empresas como a Vista Alegre, porque como é tudo assim loiça e porcelana cara, não fazia ideia de que pudessem precisar. Mas eles explicaram que precisavam dos apoios para continuarem a ter aquilo a funcionar e para livrar aquilo da ruína”, conta.
Terminada a viagem, os três garantem que adoraram a experiência e que se pudessem voltariam a repetir. “Se eu já era europeísta e acreditava na União Europeia, consegui comprovar e dar mais valor àquilo que eram as minhas crenças”, afirma Filipe, que elogia a iniciativa europeia de “querer dar a conhecer aquilo que fazem e a criar também uma boa imagem dentro do público mais jovem”.
A curiosidade que passou para os seus seguidores também contagiou Daniel, que ficou mais interessado em descobrir sobre o projeto europeu. “Certamente, nos próximos tempos, vou também pesquisar um pouco mais sobre isso e tentar mesmo informar-me mais”, afirma.
À semelhança de Daniel e Filipe, Mariana leva aprendizagens desta aventura e até ideias de negócio. Na fábrica ‘Enschede Textielstad’, nos Países Baixos, são reaproveitadas peças de vestuário usadas para produzir novos tecidos sustentáveis. “Enquanto empreendedora, também foi muito interessante de perceber a visão destas pessoas”, diz ao referir-se aos vários criadores dos projetos que conheceu. Também destaca o contacto com criadores de conteúdo de outros países, que de outra forma seria mais difícil conhecer.
“Achamos que a União Europeia é uma entidade gigantesca que é muito difícil de lá chegar e é muito difícil ter estes apoios, que isso é só para os outros”, explica Mariana Ribeiro. A maior lição foi perceber a “capacidade de desenvolvimento” desta instituição e passar a mensagem que os apoios estão disponíveis para qualquer ideia ou negócio que impacte a sociedade.
Conheça em baixo outros projetos financiados por fundos europeus, que os influenciadores digitais visitaram: