O exemplo de como as autoridades do Dubai são tolerantes na forma como acolhem residentes do mundo inteiro não podia ser mais emblemático. O inquilino de um dos apartamentos do 37.º andar do Burj Khalifa, o arranha-céus mais alto do mundo, é Dženis Kadrić, um alegado membro de um cartel criminoso na Bósnia. O seu senhorio, por sua vez, é Candido Nsue Okomo, ex-CEO da companhia petrolífera estatal da Guiné Equatorial, cunhado do presidente Teodoro Obiang e suspeito de lavagem de dinheiro em Espanha.
Como eles, há muitos a residir ou donos de casas na cidade mais famosa e vibrante dos Emirados. Numa investigação liderada ao longo de meses pelo consórcio OCCRP e pelo jornal económico norueguês E24, com a colaboração de mais de 70 media em todo o mundo, incluindo o Expresso, foram identificados quase 200 proprietários de imóveis no Dubai com perfis questionáveis, quer pelas ligações políticas de muitos deles, quer por terem cometido crimes ou serem suspeitos de os cometer na Europa, em África e noutros continentes.
Batizado de Dubai Unlocked, o projeto tem como base uma fuga de informação relacionada com o registo predial de centenas de milhares de propriedades no Dubai entre 2020 e 2022 e foi lançado esta terça-feira. Dezenas de histórias irão ser publicadas pelos ‘media’ parceiros do OCCRP e do E24 durante esta semana, incluindo pelo Expresso.
A fuga foi obtida originalmente pelo Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS), uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington, que investiga crimes e conflitos internacionais. Os dados foram depois partilhados com o jornal financeiro norueguês E24 e com o OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), que coordenaram a investigação agora revelada ao longo dos últimos meses.