Disinformation (desinformação) vs. misinformation (informação incorrecta)
A Enciclopaedia Britannica descreve o termo desinformação como “informação falsa que visa enganar os outros, difundida deliberadamente com o objectivo de confundir facto e ficção”. O termo distingue-se de misinformation (que, em tradução livre, equivale a “informação incorrecta”) por pressupor uma partilha intencional de conteúdo enganador.
A definição do EU Desinfo Lab – “informação que é falsa e disseminada intencionalmente para provocar danos” – sublinha ainda mais que quando falamos de desinformação, falamos de um acto com intuito malicioso.
Assim, a distinção entre disinformation e misinformation não depende apenas do conteúdo em si, mas sim de quem o partilha, da razão para o fazer, e do conhecimento que tem sobre o mesmo. Exemplo prático: quando Donald Trump afirmou que a sua tomada de posse tinha tido mais público a assistir do que a do antigo Presidente norte-americano, Barack Obama, criou desinformação.
Trump tinha informação suficiente para poder ter afirmado a verdade, já que havia fotografias e outras provas físicas das diferenças (mentindo de forma intencional), e fê-lo para melhorar a sua reputação, em detrimento da de Obama.
A misinformation, por outro lado, existe quando uma informação falsa é difundida sem objectivo nefasto e, muitas vezes, por pessoas que acreditam genuinamente tratar-se de uma verdade.
É exemplo disso, um caso, sobre o qual o PÚBLICO fez uma Prova dos Factos, no qual um utilizador do X (antigo Twitter) afirmou que António Costa tinha sido “um dos primeiros-ministros mais votados da história da democracia”. A informação não era correcta – Aníbal Cavaco Silva, José Sócrates, Francisco Sá Carneiro e António Guterres tiveram todos mais votos noutras eleições. No entanto, posteriormente, o autor da publicação retirou-a e fez um outro post a pedir desculpa por ter difundido uma incorrecção.
E o que são fake news?
Fake news (notícias falsas, em português) são informações falsas, estruturadas de forma a parecerem notícias. Como detalha o Cambridge Dictionary, “são difundidas na internet ou utilizando outros media, normalmente para influenciar pontos de vista políticos ou como uma piada”.
Em Fevereiro de 2021, por exemplo, começou a circular nas redes sociais uma notícia falsa partilhada com o design do PÚBLICO sobre um alegado desvio de “milhões de euros destinados à compra da vacina da Pfizer”. Tratava-se, porém, de uma versão manipulada de uma outra notícia do jornal.
Para se considerar “uma piada”, é importante haver informação explícita que permita ao cidadão comum percebê-lo. Muitas vezes, páginas satíricas indicam no nome ou na descrição dos seus perfis nas redes sociais que são isso mesmo, páginas satíricas. Ainda assim, a linha entre desinformação e humor é ténue. Nos EUA, por exemplo, a campanha de Trump partilha frequentemente memes e outros conteúdos supostamente humorísticos para atacar o desempenho de Joe Biden na presidência.
As deep fakes e as cheap fakes
As deep fakes consistem em imagens e vídeos gerados com inteligência artificial que retratam algo que não existe ou que nunca aconteceu. O termo inglês que é habitualmente usado não tem uma tradução à letra para o português, mas aproxima-se de “hiperfalsificação”.
Por vezes, a tecnologia é usada de forma lúdica – como quando criaram um vídeo de Jair Bolsonaro com uma peruca loira a cantar. Outras vezes, porém, as deep fakes são uma ameaça real, como quando mais de 20 adolescentes em Espanha viram a sua cara divulgada em nudes falsas, com corpos que não eram os seus.
Nos últimos anos, as deep fakes também são usadas como ferramentas de criação e partilha de desinformação. Em Março de 2022, pouco depois de ter início a invasão russa na Ucrânia, começou a circular nas redes um vídeo falso de Volodymyr Zelensky, o Presidente ucraniano, a “render-se”. O vídeo era, claramente, falso.
Por outro lado, as cheap fakes (“falsificações baratas”, em tradução livre) são, na prática, versões muito menos sofisticadas, complexas e realistas das deep fakes. Depois do ataque iraniano em Israel, em Abril, as redes sociais encheram-se de vídeos falsos sobre o pós-ataque. Muitos deles continham edições básicas que colocavam consecutivamente, dois clips – por exemplo, um de mísseis a serem lançados e outro de pessoas a correr – para dar a entender que se passaram em sequência na vida real. No entanto, por vezes, os vídeos nem foram gravados no mesmo local, nem na mesma altura.
O que é um hoax (embuste)? E um factóide?
Os termos hoax (ou embuste) e factóide surgem menos vezes em discussão que os anteriores, mas também se relacionam com desinformação.
Usa-se a palavra inglesa hoax para definir um conteúdo falso único. É um termo usado, como esclarece o EU Desinfo lab, “em termos gerais, para indicar uma unidade de informação incorrecta ou desinformação”.
Já o factóide consiste numa informação falsa que, por ter sido repetida tantas vezes, passa frequentemente por verdadeira. São casos comuns disso a ideia de que a Grande Muralha da China é visível do espaço ou a de que várias mulheres que convivam muito tempo juntas sincronizam os seus ciclos menstruais.
Quando é que tudo isto é considerado propaganda?
Uma das definições de propaganda no dicionário de Oxford diz que é “a disseminação sistemática de informação, especialmente de forma tendenciosa ou enganadora para promover uma causa ou ponto de vista em particular e, frequentemente, uma agenda política.
A Encyclopaedia Britannica, por outro lado, esclarece que o termo remete para a “disseminação de informação – factos, argumentos, rumores, meias verdades ou mentiras – para influenciar a opinião pública”.
Em suma, o termo propaganda define a disseminação de informação, que pode ser verdadeira ou falsa, para influenciar a opinião pública. Importa clarificar que nem sempre a propaganda tem um fim negativo: tanto é propaganda uma campanha de incentivo à vacinação como o é uma campanha de exaltação de uma determinada ala política.
Um exemplo de propaganda utilizada com fins de desinformação é a utilizada na Alemanha Nazi. Como noticiou o PÚBLICO em 2022, estudos mostram que o regime nazi difundia uma narrativa que desumanizava os judeus e os descrevia como pessoas sem preocupações morais para promover os actos de violência contra estas pessoas.
Para que serve o fact-checking?
“O fact-checking é identificado como uma prática que revela factos e que recorre a ‘métodos científicos’ para averiguar a veracidade das declarações de interesse público”, define-se no artigo científico Fact-checking: uma prática recente em Portugal? Análise da percepção da audiência.
Na prática, consiste em averiguar se dada informação – difundida nas redes sociais, dita por um representante político, entre outros – é ou não verdadeira. Também pode passar por dar contexto ou informação adicional a conteúdo que careça dela.
O objectivo do fact-checking também passa por chamar a atenção do público para para a possibilidade de determinadas declarações aparentemente verdadeiras serem, em rigor, falsas ou incorrectas.
“Não acredito em fact-checking que diz que o meu político preferido mente”
Quando alguém costuma aceitar apenas informação que dê suporte às crenças que já tem e rejeitar toda a que vá no sentido contrário, diz-se que tem viés de confirmação (ou confirmation bias, em inglês).
Estas pessoas também costumam interpretar a informação de forma a corroborar as opiniões que já têm. Por exemplo, uma pessoa que seja xenófoba, lendo uma notícia que dá conta do aumento de imigrantes em Portugal, provavelmente ficará indignada. Se alguém lhes apresentar os dados que dizem que os imigrantes deram mais de 1600 milhões de euros de lucro à Segurança Social, é possível que as pessoas xenófobas ignorem a informação ou digam que não acreditam nos números.