O secretário-geral do PCP deu esta quinta-feira o “pontapé de saída” para as eleições europeias a defender que a União Europeia “está ao serviço do grande capital” e que o euro só trouxe “estagnação económica”, “contenção salarial” e menos investimento público.
Num discurso numa acção da candidatura do cabeça de lista da CDU para as europeias, João Oliveira, no Iscte, em Lisboa, Paulo Raimundo defendeu que as eleições de 9 de Junho são para eleger 21 deputados “para um Parlamento Europeu que funciona de facto em Bruxelas e Estrasburgo, mas cujos impactos se reflectem na vida de todos os dias” de quem vive em Portugal.
“Se é lá que se fazem, é cá que se pagam e se pagam no que também está em causa nestas eleições”, defendeu, num discurso em que fez depois um balanço do que considerou ser o desenvolvimento de Portugal desde a adesão à União Europeia (UE), em 1986.
Considerando que a UE está “ao serviço do grande capital”, Raimundo sublinhou que “os fundos comunitários e as chamadas “bazucas” não compensam, como nunca compensaram, tudo aquilo de que se abdicou e se está a abdicar” no desenvolvimento do país.
“A verdade é que, com o euro, o país só conheceu estagnação económica, contenção salarial, menos serviços e investimento público”, sustentou, considerando que as consequências da “perda de soberania nacional” ficaram muito evidentes “durante o pacto de agressão das ‘troikas'” e, agora, com o aumento das taxas de juro decretadas pelo Banco Central Europeu.
Raimundo afirmou ainda que o país, “cumprindo ordens da UE”, foi “entregando ao estrangeiro cada uma das suas empresas estratégicas”, preparando-se agora para acrescentar a TAP, e criticou a Política Agrícola Comum (PAC), que considerou “obrigar o país a comprar ao estrangeiro o que antes produzia”.
Passando depois para uma crítica a medidas actuais, o líder comunista considerou que as novas regras orçamentais europeias, que deverão entrar em vigor em Maio, dão à Comissão Europeia “plenos poderes para impor ao país ritmos para a redução da dívida”, “menos investimento, mais cortes nos serviços públicos, mais privatizações, ataques ao direito do trabalho e à protecção social”.
“As contas certas das opções da UE e da política de direita desacertam a vida de milhões de pessoas, tal como ficou expresso durante a maioria absoluta do PS e que querem agravar em função da correlação de forças” saída das eleições legislativas, disse.
Raimundo considerou ainda que a UE “parece querer proibir a palavra paz” e “quer continuar a gastar cada vez mais milhares de milhões de euros para a guerra, para o armamento e para os bolsos dos que ganham com a morte e o sofrimento humano, seja na Ucrânia, na Palestina ou em qualquer outro conflito”.
Salientando que a acção desta quinta-feira visa dar o “pontapé de saída” da CDU para as europeias, Raimundo frisou que a coligação vai a essas eleições “com a coragem de quem não se resigna” e “de quem faz frente aos grandes senhores do dinheiro e o sistema capitalista”.
Intervindo depois, João Oliveira também insistiu na ideia de que “o caminho para onde Portugal tem sido empurrado é insustentável” e defendeu que a “UE tem vindo a intervir de forma crescente em áreas de competência nacional, mesmo em domínios tão sensíveis para a democracia, como a liberdade de imprensa e a censura”.
“Há décadas que nos apresentam a UE como a promessa de um futuro risonho numa terra do leite e do mel, mas nem as quotas leiteiras deixaram para sustentar a ilusão desse amanhã que nunca chega”, afirmou.
Em declarações aos jornalistas no final desta acção, na qual marcou presença o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa, João Oliveira recusou fixar “objectivos excessivamente ambiciosos”, depois de questionado se a CDU pretende recuperar os três eurodeputados que tinha em 2014.
“Nós partimos para esta batalha sem votos nas urnas, mas com a confiança deste trabalho que é feito e do reconhecimento de que gozam os eurodeputados do PCP”, disse.